Rui Tavares corta ligação ao BE e muda de bancada no Parlamento Europeu

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Rui Tavares mantém-se no Parlamento Europeu mas afasta-se do BE Ana Ramalho

Mais um dia agitado nas hostes bloquistas. Rui Tavares, eurodeputado independente eleito em 2009 pelas listas do Bloco de Esquerda (BE), anunciou ontem, em comunicado, o corte com o partido que o elegeu para o mandato no Parlamento Europeu (PE), em Bruxelas.

Mas anunciou que vai manter funções como deputado independente na bancada parlamentar dos Verdes europeus, abandonando a família política do Grupo de Esquerda Unitária, que integra os eurodeputados do BE e do PCP. Uma decisão considerada "desproporcionada" pelos outros dois eurodeputados do BE, Miguel Portas e Marisa Matias.

Na rota desta polémica está um texto publicado por Francisco Louçã, na sua página no Facebook, na passada sexta-feira, no qual o coordenador bloquista imputa a Rui Tavares uma informação errónea relativa ao nome dos quatro fundadores do partido, divulgada, segundo Louçã, nos jornais i e Sol. Fernando Rosas era substituído na história por Daniel Oliveira. E Louçã ficara "curioso" com a "coincidência de dois enganos tão estranhos", supostamente justificada pelo jornalista do i com base numa "conversa" que tivera com o eurodeputado.

"Na minha resposta - pública porque tinha sido pública a nota de Louçã -, neguei que alguma vez tivesse declarado, a jornalistas ou a quaisquer outras pessoas, em público ou privado, que Daniel Oliveira fosse um dos quatro fundadores do BE", diz Tavares no comunicado ontem emitido. Logo no início da polémica, o eurodeputado tinha exigido um pedido de desculpas de Francisco Louçã. Mas o máximo que obteve da parte do coordenador bloquista foi o "registo" de que Tavares não tivesse, afinal, "facilitado qualquer confusão". No jogo de reacções que entretanto se desenrolou sem pausas, o eurodeputado lamentou que o seu nome tivesse sido acompanhado de expressões como "falsificação" ou "tentativa de retirar o Fernando desta história", pelo que aguardou o pedido de desculpas invocado. Mas ele não surgiu. "Passaram três dias e nada disto aconteceu", escreve no comunicado.

Estava assim quebrada em absoluto a "confiança pessoal e política" em Louçã, o que levaria o eurodeputado a considerar que não tinha condições para continuar ligado ao Bloco. Para os militantes e simpatizantes do BE, deixou o registo de lamento de uma situação à qual foi "alheio" e à qual, segundo o próprio, deu tempo para que se resolvesse. Contactado pelo PÚBLICO, Tavares não quis fazer comentários, remetendo mais explicações para o artigo hoje publicado nesta edição na página 40, no qual invoca a "ostracização" de que diz ter sido alvo desde 2010. Refere-se ao texto de Louçã como o condensar de "anos de purgas" e afirma que o "compromisso" pelo qual aceitou candidatar-se se mantém, pelo que tem o "dever" de cumprir o mandato.

Na nota antes enviada à imprensa, Tavares informa que comunicou primeiramente aos seus pares, a quem agradeceu a "compreensão demonstrada". Mas Portas e Matias, que assinalaram o respeito pela decisão, afirmaram também que registam "a desproporção entre o motivo invocado e a consequência política da decisão". Contactada pelo PÚBLICO, Marisa Matias disse que viu com tristeza a saída de Tavares e frisou que a "a legislação é clara, o mandato é de Rui Tavares", embora tenha acrescentado que "é legítimo que haja pessoas que se sintam lesadas" com a decisão de continuar no PE. Mas essa ponderação, disse Matias, só a ele lhe compete fazer.

Fonte próxima da direcção do BE fez saber ao PÚBLICO que Rui Tavares, duas semanas antes das eleições, já tinha dado nota à direcção política da sua intenção de sair. Já Louçã remeteu explicações para a nota divulgada pelos dois eurodeputados bloquistas. E justificou ao PÚBLICO que não faria outros comentários, "dada a natureza pessoal do texto" de Tavares. À Lusa, lamentou a decisão do eurodeputado, mas acrescentou não estar surpreendido. E rematou: "Tenho pena, mas não temo nada, antes pelo contrário".

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