Mourinho saiu no fim de um ciclo, Villas-Boas deixa a obra órfã e a meio

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A deserção de André Villas-Boas deixa Pinto da Costa numa encruzilhada e numa situação ainda mais complicada do que aquela com que teve de lidar há sete anos, quando Mourinho também não resistiu ao chamamento de Abramovich. Em 2004, o Dragão assistia ao fim de um ciclo; agora, o projecto ficou órfão a meio da obra.

No primeiro caso, independentemente da saída do técnico, sabia-se que os jogadores tinham de ser vendidos, porque o contrário seria mau negócio e porque isso até tinha sido prometido a vários deles (sendo o caso de Deco o mais paradigmático). Hoje, acontece o contrário. A vários dos craques foi pedido para ficarem mais um ano, no pressuposto de que haverá uma equipa (e um treinador) com condições para os valorizar ainda mais. A saída de Villas-Boas pode, por isso, criar algumas ondas de choque no balneário, mais a mais sabendo-se que 30 milhões de euros para Abramovich não são motivo para deixar Villas-Boas a salivar por Falcao...

É verdade que as duas situações têm vários pontos de contacto, até por terem o Chelsea e dois jovens treinadores portugueses por denominadores comuns. Mas, em 2004, Mourinho tinha acabado de juntar a conquista da Champions à Taça UEFA ganha em Sevilha (para além de dois títulos nacionais). Era, por isso, impossível segurá-lo, de nada tendo valido os esforços de Pinto da Costa e Antero Henrique, designadamente quando lhe ofereceram um cargo, que nunca existiu no futebol português, e que dava poderes totais ao Special One. Mourinho é um pragmático e os seus sonhos e ambições já não cabiam no Dragão.

Villas-Boas também saltou, naturalmente, para os escaparates internacionais com a vitória em Dublin. Mesmo assim, os adeptos portistas tinham motivos razoáveis para acreditar que o bisneto do 1.º visconde de Guilhomil não iria abdicar já da sua "cadeira de sonho". Pelo seu propalado portismo, pela cláusula de 15 milhões e pela garantia de que iria ter no FC Porto uma equipa ainda mais reforçada para vender a imagem do clube (e a sua própria) na Champions, que obviamente tem uma dimensão diferente da Liga Europa.

Multiplicar por cinco o actual ordenado de um milhão de euros e passar a treinar um dos três melhores plantéis do mundo, como é, de facto, o do Chelsea, acabaram por fazer Villas-Boas mudar de opinião. É humano que tenha dado o dito por não dito, até porque esta viagem para Londres permite-lhe manter-se no trilho que levou o seu ex-patrono ao sucesso. E também porque, no futebol, o comboio nem sempre passa duas vezes.

Sossegar os jogadores e encontrar um novo treinador serão agora as grandes dores de cabeça de Pinto da Costa. Terá de o fazer rapidamente e, quase de certeza, pela ordem inversa. Mas não será fácil. Até porque não parece haver nenhuma boa solução óbvia.

Há sete anos tentou resolver o problema com um estrangeiro, mas os fracassos com Del Neri, Víctor Fernández e, de alguma forma também, com Co Adriaanse podem fazê-lo pensar diferente. Domingos Paciência seria a solução óbvia, mas já não está disponível. Parece não ser ainda o tempo de Jorge Costa, mas nunca se sabe. José Peseiro teria o condão de continuar a garantir bom futebol (e algumas das limitações que lhe apontam ao nível da liderança não seriam um problema grave no Dragão). Mas Pinto da Costa é capaz de desconfiar do seu rótulo de perdedor. No mercado nacional, sobra praticamente apenas o adjunto Vítor Pereira, que o presidente portista já elogiou e que parece ter-se recusado a acompanhar Villas-Boas na viagem para Londres. É mais velho (completa 43 anos em Julho) e tem claramente mais anos como treinador principal do que Villas-Boas. A dúvida é se o seu nome será suficiente para tranquilizar Falcao, Hulk e mais uns quantos...

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