Morreu o saxofonista Clarence Clemons, companheiro de estrada de Bruce Springsteen

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Clarence Clemons actuou pela última vez ao lado de Springsteen em Dezembro de 2010 Scott Audette/Reuters

Bruce Springsteen nos concertos em que encontrou Clarence Clemons quando tocavam em bandas diferentes em Asbury Park, New Jersey, década de 1970. Springsteen estava a caminho de formar a E Street Band e compunha o primeiro álbum. Clarence Clemons actuava com os Norman Seldin And The Joyful Noyze. Entre concertos, Clemons espreitou a banda de Springsteen e gostou tanto do que ouviu que lançou para o palco: “Quero entrar na banda”. Springsteen, olhando para o porte físico imponente do saxofonista que fora jogador de futebol americano, respondeu simplesmente “claro, podes fazer o que quiseres”.

E Clemons tocou. Tocou em “Spirit in the night”, a canção daquele primeiro encontro, tocou no álbum de estreia de Springsteen, “Greetings From Asbury Park, NJ”, e tornar-se-ia companheiro fiel e músico imprescindível à E Street Band nas quatro décadas seguintes. Recordando esse encontro anos depois, aquele que o Boss alcunhou Big Man diria: “Bruce e eu olhámos um para o outro e não dissemos nada, nós sabíamos. Sabíamos que éramos o elo perdido na vida um do outro”.

Clarence Clemons morreu hoje, aos 69 anos, vítima de complicações no pós-operatório surgidas depois de um acidente vascular cerebral há uma semana. Num comunicado publicado no seu site, Bruce Springsteen lamenta a perda do “grande amigo”, do “companheiro”: “Com Clarence a meu lado, eu e a banda conseguíamos contar uma história bem mais profunda que a simplesmente contida na música. A sua vida, a sua memória e o seu amor continuarão nessa história e na nossa banda”.

Nascido em 11 de Janeiro de 1942, Clarence Clemons passou por várias bandas de soul e r&b antes do encontro com Bruce Springsteen. Inspirado por King Curtis, teve a sua primeira experiência em estúdio com os Funky Music Machine, banda onde militavam Ray Davis, Eddie Hazel e Billy Bass Nelson, três futuros Funkadelic.

O momento fundador do seu percurso e do estatuto que atingiu no mundo da música popular urbana chegaria porém com o encontro com Springsteen. Encontrou no cantor de “The River” um “visionário” perseguindo um sonho e a E Street Band encontrou naquele saxofonista um “membro de banda sublime, um ingrediente absolutamente essencial, e ‘soulful’, tanto para o som de Springsteen como para o espírito do grupo”, escreve David Remnick na New Yorker. É em Clemons, oculto na foto, que Springsteen se apoia na capa de “Born To Run”, é Clemons que, com o seu longo solo, dá o tom definitivo a “Jungleland”, canção emblemática do álbum de 1975.

Paralelamente ao seu trabalho na E Street Band, Big Man gravou com Jackson Browne no dueto “You’re a friend of mine”, com Aretha Franklin no single de 1985 “Freeway of love” e, muito recentemente, com Lady Gaga – ouvimo-lo em “Hair”, “The edge of glory” e “Highway unicorn (road to love)”, três canções do último “Born This Way”. E foi também actor: vemo-lo, por exemplo, encarnando um trompetista em “New York New York”, o musical de 1977 de Martin Scorsese.

Apesar da osteoartrite de que sofria – na última digressão da banda, era conduzido pelos bastidores num carro de golfe – e, consequentemente, das pausas a que se via obrigado nos longos concertos, “ainda era capaz de tocar, nota por nota, os seus solos emblemáticos”, escreve o supracitado Remnick.

Casado cinco vezes e pai de quatro filhos, Clarence Clemons sofreu um acidente vascular cerebral a 12 de Junho. Depois de duas cirurgias, o seu estado foi considerado crítico, mas estável. A esperada recuperação não chegou porém a acontecer. Morreu hoje, uma semana depois do acidente.

Bruce Springsteen disse à CNN que sente neste momento uma “dor profunda”. Mas Clarence Clemons teve “uma vida magnífica”, acrescentou.

notícia actualizada às 22h10
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