Morreu o saxofonista Clarence Clemons, companheiro de estrada de Bruce Springsteen
Bruce Springsteen nos concertos em que encontrou Clarence Clemons quando tocavam em bandas diferentes em Asbury Park, New Jersey, década de 1970. Springsteen estava a caminho de formar a E Street Band e compunha o primeiro álbum. Clarence Clemons actuava com os Norman Seldin And The Joyful Noyze. Entre concertos, Clemons espreitou a banda de Springsteen e gostou tanto do que ouviu que lançou para o palco: “Quero entrar na banda”. Springsteen, olhando para o porte físico imponente do saxofonista que fora jogador de futebol americano, respondeu simplesmente “claro, podes fazer o que quiseres”.
E Clemons tocou. Tocou em “Spirit in the night”, a canção daquele primeiro encontro, tocou no álbum de estreia de Springsteen, “Greetings From Asbury Park, NJ”, e tornar-se-ia companheiro fiel e músico imprescindível à E Street Band nas quatro décadas seguintes. Recordando esse encontro anos depois, aquele que o Boss alcunhou Big Man diria: “Bruce e eu olhámos um para o outro e não dissemos nada, nós sabíamos. Sabíamos que éramos o elo perdido na vida um do outro”.
Clarence Clemons morreu hoje, aos 69 anos, vítima de complicações no pós-operatório surgidas depois de um acidente vascular cerebral há uma semana. Num comunicado publicado no seu site, Bruce Springsteen lamenta a perda do “grande amigo”, do “companheiro”: “Com Clarence a meu lado, eu e a banda conseguíamos contar uma história bem mais profunda que a simplesmente contida na música. A sua vida, a sua memória e o seu amor continuarão nessa história e na nossa banda”.
Nascido em 11 de Janeiro de 1942, Clarence Clemons passou por várias bandas de soul e r&b antes do encontro com Bruce Springsteen. Inspirado por King Curtis, teve a sua primeira experiência em estúdio com os Funky Music Machine, banda onde militavam Ray Davis, Eddie Hazel e Billy Bass Nelson, três futuros Funkadelic.
O momento fundador do seu percurso e do estatuto que atingiu no mundo da música popular urbana chegaria porém com o encontro com Springsteen. Encontrou no cantor de “The River” um “visionário” perseguindo um sonho e a E Street Band encontrou naquele saxofonista um “membro de banda sublime, um ingrediente absolutamente essencial, e ‘soulful’, tanto para o som de Springsteen como para o espírito do grupo”, escreve David Remnick na New Yorker. É em Clemons, oculto na foto, que Springsteen se apoia na capa de “Born To Run”, é Clemons que, com o seu longo solo, dá o tom definitivo a “Jungleland”, canção emblemática do álbum de 1975.
Paralelamente ao seu trabalho na E Street Band, Big Man gravou com Jackson Browne no dueto “You’re a friend of mine”, com Aretha Franklin no single de 1985 “Freeway of love” e, muito recentemente, com Lady Gaga – ouvimo-lo em “Hair”, “The edge of glory” e “Highway unicorn (road to love)”, três canções do último “Born This Way”. E foi também actor: vemo-lo, por exemplo, encarnando um trompetista em “New York New York”, o musical de 1977 de Martin Scorsese.
Apesar da osteoartrite de que sofria – na última digressão da banda, era conduzido pelos bastidores num carro de golfe – e, consequentemente, das pausas a que se via obrigado nos longos concertos, “ainda era capaz de tocar, nota por nota, os seus solos emblemáticos”, escreve o supracitado Remnick.
Casado cinco vezes e pai de quatro filhos, Clarence Clemons sofreu um acidente vascular cerebral a 12 de Junho. Depois de duas cirurgias, o seu estado foi considerado crítico, mas estável. A esperada recuperação não chegou porém a acontecer. Morreu hoje, uma semana depois do acidente.
Bruce Springsteen disse à CNN que sente neste momento uma “dor profunda”. Mas Clarence Clemons teve “uma vida magnífica”, acrescentou.
notícia actualizada às 22h10