Torne-se perito

Um defensor da austeridade orçamental e admirador de Friedman nas Finanças

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Conteúdo do memorando não impedirá Vítor Gaspar de tomar decisões DR

Com uma vasta experiência nas instituições europeias, o futuro ministro das Finanças é um acérrimo defensor da estabilidade orçamental

Vítor Gaspar, 50 anos, é um dos poucos economistas bem preparados tecnicamente para o cargo que vai ocupar nesta conjuntura. Mas também é tido como um dos mais liberais.

Licenciado em 1982 na Universidade Católica, doutorou-se pela Universidade Nova de Lisboa. A primeira experiência governamental deste independente foi quando chefiou o gabinete de Miguel Beleza, no segundo Governo Cavaco Silva. Muito novo, foi director dos departamentos de Estudos Económicos do Ministério das Finanças e do Banco de Portugal nos governos Cavaco, postos que o levaram a representante de Portugal no Comité Monetário Europeu de 1989 a 1998, passando pelas negociações do Tratado de Maastricht que criou o euro. De 1998 a 2004, foi director-geral do Departamento de Estudos do Banco Central Europeu (BCE) e desde 2007 liderou o Departamento de Conselheiros da Comissão Europeia. Em 2010, tornou-se conselheiro da administração do Banco de Portugal.

A sua visão económica esteve na base das decisões do Governo Cavaco Silva de aproveitar o sistema monetário europeu (SME) - integração do escudo no mecanismo das taxas de câmbio do SME, antecâmara da adesão ao euro - como forma de reduzir rapidamente a inflação nacional e promover a reestruturação à força das empresas em concorrência externa ("desinflação competitiva"). Uma estratégia que economistas como João Ferreira do Amaral criticam como causa da actual degradação das contas externas.

Tido como um economista liberal - "O economista que mais admiro é Milton Friedman" -, as convicções económicas de Vítor Gaspar em defesa da estabilidade dos preços como prioridade económica de longo prazo para o crescimento económico foram suficientes para ter escrito um livro de parceria com Otmar Issing, representante alemão desde a criação do BCE, membro da sua administração e qualificado como o mais falcão entre os falcões do BCE. Quando lhe perguntaram em 2009 se os critérios de Mastricht deveriam ser revistos, a sua resposta é reveladora: "Não."

Por isso também, Vítor Gaspar é um defensor de uma austeridade orçamental como "preocupação de regime". "Temos que perceber que a sustentabilidade das contas públicas se coloca numa perspectiva de longo prazo", defende.

A sua nova tarefa vai ser um desafio: conciliar o relançamento da economia com o aperto rápido das finanças públicas - de um défice de 5,9 por cento este ano até chegar em 2013 aos 3 por cento de Maastricht. Depois, não se espere que o memorando da troika impeça o ministro de decidir. Todo o edifício legislativo das medidas está por fazer e o calendário é apertado. Até ao final de 2011, serão mais de 50 medidas. A primeira será o polémico corte da taxa social única. Do lado das receitas, o Governo terá, em bastantes casos, que escolher quem vai pagar. Mas a principal dificuldade vai ser o primeiro Orçamento do Estado deste Governo com as medidas recessivas de austeridade e privatizações. Será a tarefa mais difícil que teve pela frente, mas Vítor Gaspar terá a oportunidade da sua vida de mostrar a eficácia das suas teorias, sob o risco de saída do euro.

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