16 mortos no dia em que as manifestações regressaram à Síria

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O soldado Mohammad Sebo, de 23 anos, desertou da sua unidade do exército sírio em Homs e refugiou-se na Turquia Osman Orsal/Reuters

Dois dos mortos, civis, foram atingidos por balas quando rasgavam cartazes com a cara de Al-Assad.

As forças armadas, com tanques e helicópteros, entraram em Maarat al Numaan, ocupando a cidade perto da fronteira com a Turquia, onde se situa também Jisr al Shughour onde se travavam combates entre os soldados e opositores armados, segundo relataram activistas da oposição à estação de televisão Al-Jazira.

Um activista sírio dos direitos humanos, Mustafá Osso, disse à AFP que soldados entraram na cidade às primeiras horas da manhã tendo detido pelo menos 300 pessoas, na sua maioria com mais de 16 anos. Osso disse que as prisões indiscriminadas começaram há alguns dias.

Os militares sírios estão a ocupar a faixa oeste do país, a mais povoada e onde ocorrem as principais manifestações contra o regime totalitário do Presidente Bashar al-Assad, exigindo que saia do poder e a democratização do país.

A progressão das tropas está a provocar êxodos para os países mais próximos, sendo Maarat al Numaan uma cidade perto da fronteira com a Turquia. Dos 90 mil habitantes, restam cerca de sete mil na cidade, segundo as fontes da Al-Jazira e da AFP.

Maarat al Numaan é uma cidade histórica situada nas proximidades das Cidades Esquecidas, um grupo de 700 povoações abandonadas no norte da Síria. Os lugares arqueológicos de Qal'at Sim'an, Serjilla e el Bara, entre Aleppo e Hama, têm vestígios da ocupação bizantina e ali se travaram importantes batalhas (e massacres) durante a Primeira Cruzada.

Só à Turquia chegaram dez mil refugiados e, ontem, o Governo de Ancara anunciou o envio de alimentos, água potável medicamentos e outros bens para os campos que estão a ser instalados para acolher estes sírios. Ancara anunciou ainda um amudança na sua política externa, fazendo saber que são necessárias mudanças no Médio Oriente e que as reivindicações da população síria são "justas" e "legítimas" - uma mudança que o Irão classificou imediatamente de atitude "sionista".

Fontes militares sírias, através da agência noticiosa estatal, a SANA, informaram a população sobre estas operaçãos explicando a ocupação do território com milhares de militares, tanques e outras armas pesadas como acções necessárias para evitar que "organizações terroristas" bloqueassem a auto-estrada Damasco-Aleppo, vital para a economia síria. O comunicado prosseguia dizendo que os combates em Jisr al Shughour e arredores visavam "restabelecer" a segurança.

Foi nesta região que surgiram as primeiras notícias de possíveis sublevações dentro das forças governamentais. Residentes e activistas da oposição contaram às agências noticiosas, por telefone - os jornalistas estrangeiros estão proibidos de entrar e circular na Síria e a imprensa local é dominada pelo regime - que grupos de soldados se recusaram a disparar contra a população e outros desertaram, colocando-se ao lado dos manifestantes. Alguns desses desertores, conseguiram saír do país, refugiando-se na Turquia (há grupos de refugiados também no Líbano e na Jordânia). Em Jisr al Shughour terão surgido também os primeiros grupos de civis armados a enfrentar a repressão das tropas governamentais

As Nações Unidas consideram que a repressão do regime para impedir os protestos contra Al-Assad e o seu partido único, o Baas, matou pelo menos mil civis nos últimos três meses. Ontem, mais uma vez, o secretário-geral desta organização, Ban Ki-moon, exigiu aos governantes sírios que "deixem de matar gente".

Na quinta-feira foi anunciado que o Presidente Bashar al-Assad falaria, em breve, à população.

Notícia actualizada às 18h00
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