Concurso bloqueado há dez anos impede aproveitamento de metade do sangue recolhido em Portugal
Álvaro Beleza, presidente do Instituto Português do Sangue (IPS) conta que das dádivas de sangue recolhidas, 400 mil unidades por ano vão para os hospitais directamente para transfusões.
“Somos auto-suficientes em colheitas de sangue e o nosso sangue tem grande qualidade”, garante o responsável, desde Fevereiro no cargo, no dia em que se celebra o Dia Mundial do dador de Sangue, em que o IPS apresentou a campanha de Verão. Monte Gordo e Quarteira, no Algarve, Carcavelos, na região de Lisboa, Figueira da Foz e Póvoa de Varzim, são as praias que vão receber unidades móveis, em Agosto, para sensibilização e colheita.
Mas o problema, diz Beleza, está no processamento do plasma, cujos componentes fraccionados, como o concentrado de eritrócitos ou de plaquetas, entre outros, são usados em patologias ou cirurgias específicas, como noticiou hoje o Jornal de Notícias.
“Não temos indústria farmacêutica que o faça. O processo foi impugnado várias vezes, está bloqueado há dez anos. E são derivados caríssimos”, diz o responsável. Álvaro Beleza afirma que, desde que chegou ao IPS activou uma câmara de frio específica para este processamento e que já se conseguem processar 90 mil unidades por ano. “O IPS está acreditado para este serviço. Mas é uma questão administrativa”. E a falta destes derivados de plasma custa a Portugal 70 milhões de euros por ano, uma vez que se tem de importar a quantidade em falta. “Nunca seríamos auto-suficientes. Mas este custo podia ser minimizado”.
O sangue recolhido que não é aproveitado é destruído. “Ou encontramos indústria farmacêutica que fraccione o plasma ou inutilizamos. Ou então exportamos. Mas esse processo seria muito complicado”. E afirma que já alertou o Ministério da saúde para este problema. “Sei que estão a estudar este assunto”.
Sensibilizar os mais novos para dar sangueÁlvaro Beleza explica que a doação de sangue está a correr bem. Mas é necessário sensibilizar os mais novos para a importância da dádiva: “Temos uma população cada vez mais envelhecida. E há componentes que gastamos todos, como o concentrado de eritrócitos”. Por isso a campanha de Verão é particularmente dirigida aos jovens, contando com a participação do surfista Tiago Pires, que corre o circuito profissional mundial, e também dirigida às crianças mais pequenas, para que se sensibilizem desde cedo para esta causa: “Há que fomentar esta ideia da dádiva como natural, fomentar a cultura da dádiva”, disse Joaquim Mendes Silva, vice-presidente da Federação das Associações de Dadores de Sangue, hoje no lançamento da campanha de Verão do IPS, onde foi apresentado um livro de banda desenhada sobre esta matéria, dedicado a alunos dos primeiro e segundo ciclos do ensino.