"ETA e Bildu voltam a ter a mesma estratégia"

Com 276 mil votos nas municipais bascas, equivalentes a 25 por cento do eleitorado, e 953 vereadores eleitos, a coligação Bildu, que integra os herdeiros do Batasuna, considerados o braço político da ETA, tornou-se a segunda força política de Euskadi. Uma profunda alteração do mapa político basco. "ETA e Bildu voltam a ter a mesma estratégia", comenta, ao PÚBLICO, o analista Florencio Dominguez.

"A Bildu está na legalidade sem se demarcar do terrorismo e, uma vez legal, nada vai pedir à ETA mas pedirá ao Governo espanhol mudanças nas políticas penitenciárias e que negoceie com a organização", afirma Dominguez. Depois da sentença do Tribunal Constitucional de 5 de Maio ter permitido à coligação participar nas municipais do País Basco, esta força está democraticamente homologada. "Nos últimos meses existia uma tensão entre a ETA e o seu braço político, mas agora voltam a ter a mesma estratégia, o fim do que denominam como conflito", analisa Florencio Dominguez.

A "revolução" eleitoral basca teve consequências. "O PNV hesita em cortar o caminho à Bildu ou deixar-lhes a via livre, mas, sobretudo, não quer aparecer como "ponte" com os partidos espanhóis, espera que estes votem nos seus candidatos mas não quer compromissos com o PP e o PSOE", prossegue.

Após a constituição dos municípios, será a vez de serem eleitas as "deputações", governos provinciais. Instituições que cobram a totalidade dos impostos na área da sua jurisdição e, com esse dinheiro, pagam o cupo, a contribuição destes territórios para os gastos gerais do Estado. O que confere às "deputações" um enorme campo de manobra financeira e grande influência política. A Bildu vai liderar o governo provincial de Guipuzcoa e o PNV necessita do seu apoio para conquistar a de Álava, onde o PP foi o mais votado. "Os eleitores bascos não-nacionalistas estão preocupados, mas em Espanha o terrorismo já não é uma preocupação, apenas uma coisa marginal", conclui Florencio Dominguez. N.R.

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