Cavaco confessa ter "alguma pena" por Portugal ter perdido comando de "nível superior" da NATO

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O comando de Oeiras será substituído por um comando operacional marítimo Miguel Manso

“Tenho alguma pena como todos os outros que perderam comandos têm, que tenha saído de Oeiras este comando de nível superior”, reconheceu o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, em declarações aos jornalistas à entrada para um almoço no Conservatório Regional de Castelo Branco, inserido no programa de comemorações do 10 de Junho.

Lembrando que Portugal "é apenas um entre um entre 28 membros da NATO” e que as negociações para se chegar a um consenso foram “difíceis e muito demoradas”, Cavaco Silva salientou que o resultado a que se chegou “dignifica o esforço” que Portugal fez.

“Penso que o resultado a que se chegou ontem [quarta-feira] dignifica o esforço que nós fizemos, em particular desde a cimeira da NATO que teve lugar em Portugal e da conversa que os altos responsáveis portugueses aqui tiveram com o Presidente Obama, que também deu uma palavra para que fossem satisfeitas as pretensões de Portugal”, declarou.

Cavaco Silva enalteceu ainda a forma como o ministro da Defesa “defendeu a posição portuguesa”, salientando que essa posição foi concertada não só consigo, mas também com os partidos que apoiam a presença de Portugal na NATO.

“Na reforma da estrutura de comandos da NATO já sabíamos há muito tempo que o comando de alto nível, que é um comando de nível dois, iria sair de Oeiras, mas Portugal conseguiu negociar um elemento da estrutura do comando”, acrescentou, frisando igualmente também virá para Portugal uma escola de comunicação e de formação que estava em Itália.

Os ministros da Defesa dos 28 Estados-membros da NATO chegaram a acordo na quarta-feira à noite sobre a reforma da estrutura de comandos da organização que prevê a substituição do actual comando em Oeiras por um outro, responsável pela força marítima de reacção rápida (‘Strikfornato’) da Aliança Atlântica, actualmente colocada em Nápoles. Recebe também a Escola de Sistemas de Comunicação e Informações (NCISS, em inglês), mantendo o Centro de Lições Aprendidas e Análise Conjunta (JALLC).

O Comando Conjunto da NATO em Oeiras deixa de existir, dado que apenas o de Nápoles e o de Brunssum se mantêm.

Portugal alcançou "solução possível”, dizem PSD e CDS-PP

O PSD e o CDS-PP consideraram, por seu lado, que o resultado alcançado por Portugal na reforma dos comandos da NATO foi “a solução possível”, adiantando que o país se arriscava a ficar sem nenhuma estrutura da Aliança se a recusasse.

“Nós manifestámos a nossa concordância com a proposta final apresentada pelo secretário-geral da NATO porque fomos colocados perante a possibilidade de que ou era isto ou nada, não fomos parte, e nem devíamos ser, da negociação, por isso não sabemos se se podia ter ido mais longe ou não”, afirmou à agência Lusa o deputado centrista João Rebelo.

Rebelo, também vice-presidente da Comissão Parlamentar de Defesa, afirmou que, “vetando esta solução”, Portugal “poderia não ter nada”.

“Era necessário manter uma bandeira da NATO em Portugal e esse fim foi alcançado, acaba por ser o desfecho possível, mas não foi o que Portugal queria, é preciso realçar isto”, vincou João Rebelo.

O parlamentar do CDS-PP considerou ainda que em relação à Escola que vem para Portugal há “pontos por esclarecer”, designadamente ao nível do “custo da transferência” e a sua localização.

Já o deputado do PSD e presidente da Comissão Parlamentar de Defesa, José Luís Arnaut, considerou que esta foi “a solução possível” e que o mais importante era a preservação de uma bandeira NATO no país e de uma estrutura marítima que favorecesse a vocação atlântica de Portugal”.

“A NATO está num processo de reforma e de redução das suas estruturas e nesse sentido obviamente que Portugal tinha de estar abrangido. Há uma redução no ‘ranking’ militar mas há a manutenção de uma estrutura em Portugal, o pior dos cenários seria o desaparecimento total das estruturas da NATO”, assinalou.

O social-democrata enalteceu ainda a “acção concertada” de Governo, PS, PSD, CDS-PP e da Presidência da República, referindo que esta foi “persuasiva e permanente junto dos organismos da NATO”.