Combates em cidade iemenita cercada por extremistas ligados à Al-Qaeda

Auto-intitulado Partidários da Sharia (a lei islâmica), este grupo que se suspeita ter ligações à Al-Qaeda tomou aquela cidade no Sul do Iémen no passado dia 29, mantendo desde então sob cerco dezenas de soldados numa base militar ali localizada. O exército iemenita respondeu desde a noite de ontem, tendo sido registados pelo menos 15 mortos nos combates, incluindo nove soldados – no que faz ascender o balanço de vítimas mortais para 65 nesta zona, desde o assalto dos extremistas à cidade.

Para o ministro da Defesa, os rebeldes islamistas que tomaram Zinjibar são “sem dúvida” membros da Al-Qaeda na Península Árabe, organização que tem usado a sua base no Iémen para lançar ataques contra alvos na Arábia Saudita e Estados Unidos. Esta mesma fonte precisou que entre os extremistas estão afegãos e egípcios.

A situação em Zinjibar ilustra um dos cenários mais temidos pelos vizinhos regionais desde pequeno país do golfo pérsico, assim como das potências internacionais – face o vazio de poder de facto instalado no Iémen na esteira da contestação popular ao Presidente, Ali Abdullah Saleh, que se agudizou com a partida, no sábado, do chefe de Estado para a Arábia Saudita para ser operado a ferimentos sofridos durante um ataque ao palácio presidencial em Sanaa.

Com a expectativa de que a saída de cena de Saleh (no poder durante mais de 33 anos) seja definitiva, abrindo a porta a uma transição pacífica no país com a transferência interina da autoridade para o vice-presidente, Abu-Rabbu Mansour Hadi, as potências mundiais temem porém que uma situação de caos facilite a operacionalidade da rede da Al-Qaeda instalada no Iémen e aumente os riscos de segurança na região, sobretudo na vizinha gigante petrolífera Arábia Saudita.

Para já toda a pressão tem sido exercida no campo diplomático – nomeadamente com Estados Unidos e Reino Unido a tentarem convencer as autoridades sauditas a persuadirem Saleh a não regressar ao Iémen. “Instamos a uma transição [do poder] pacífica e ordeira”, reiterou ontem à noite a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton.

As autoridades norte-americanas e britânicas já há mais de um mês que deram ordem de evacuação dos seus diplomatas do Iémen e aconselharam todos os seus cidadãos a abandonarem o país. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, William Hague, lembrou este fim-de-semana, de resto, que é agora “extremamente improvável” que Londres possa levar a cabo uma operação de retirada de pessoas do Iémen, aconselhando os britânicos que ainda se encontram no país a “não planearem nem esperarem” ajuda do Governo.

Porém, num sinal de que o Reino Unido pode ter “planos de contingência, para o caso de a situação se agravar”, descreve o diário "The Guardian", foi confirmado pelo Ministério da Defesa britânico que se encontra junto à costa do Iémen o vaso militar Fort Victoria, com cerca de 80 marines a bordo. O Governo escusou-se a precisar as razões exactas das “tarefas operacionais” dadas ao Fort Victoria, mas a BBC avançou ainda ontem à noite que estes marines estão em “prevenção e prontos a dar assistência a eventual necessidade de retirar cidadãos britânicos” do país.

Rebelião a Saleh toma controlo de Taiz, segunda maior cidade do Iémen

Grupos de rebeldes ao regime do Presidente terão hoje tomado o controlo de Taiz, segunda maior cidade iemenita a 270 quilómetros para sudoeste de Sanaa, após violentos combates com as forças de segurança que se arrastaram ao longo dos últimos dias.

O anúncio da tomada de Taiz, onde se assistiram aos primeiros protestos contra Saleh, em Janeiro passado, foi feito pelo chefe do conselho tribal da região, xeque Hammoud Said al-Mekhlafi, o qual indicou que membros das tribos foram mobilizados armados para a cidade "com o objectivo de proteger os manifestantes pacíficos (...) depois do genocídio" que diz ter sido cometido pelas forças leais ao regime – numa referência às 50 pessoas que foram mortas há uma semana quando as autoridades dispersaram um protesto na praça central da cidade.

Al-Mekhlafi explicou ainda, citado pela agência noticiosa francesa AFP, que os combates que se prolongaram até ao fim da manhã de hoje tiveram em confronto milícias armadas que se afirmam "protectoras" dos manifestantes anti-regime, incluindo soldados e oficiais que desertaram, contra membros da Guarda Republicana, unidade de elite do exército iemenita, e outras unidades das forças de segurança.

Notícia actualizada às 13h00
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