2010 foi um ano perdido, considera o Banco de Portugal

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Carlos Costa, governador do BdP Jorge Miguel Gonçalves/NFactos

O ano de 2010 foi um ano perdido, pois adiaram-se as reformas necessárias ao ajustamento macro-económico, diz o Banco de Portugal (BdP). “Nos próximos anos a economia portuguesa vai estar sujeita a um profundo processo de ajustamento de desequilíbrios estruturais que vai determinar a queda da procura interna”, sublinha o supervisor no seu Relatório de Estabilidade Financeira de Maio de 2011.

O BdP chama ainda a atenção para o facto de o “impacto económico e social dos ajustamentos a efectuar ser substancial no curto prazo e de existirem riscos não negligenciáveis”.

No seu relatório periódico, o supervisor alerta para as tensões associadas à crise da divida soberana”, evidenciadas em Maio de 2010, estarem a colocar fortes pressões sobre o custo do financiamento do Estado e estarem ainda a condicionar o acesso dos bancos nacionais aos mercados internacionais para irem levantar fundos.

Em todo o caso, o BdP reconhece que o sector financeiro nacional, “que tem recorrido de forma expressiva ao Eurosistema”, tem vindo “a ajustar gradualmente a estrutura do seu balanço”, o que se verifica, em particular, a partir do segundo semestre de 2010. Uma situação para a qual o supervisor tem contribuído ao tomar medidas para reforçar a “estabilidade e a confiança no sistema bancário” promovendo a redução do endividamento, distribuição mais equilibrada de resultados, reforço gradual do capital, melhoria da eficiência operacional.

Carlos Costa recomenda que o sistema bancário português, que hoje vive “um dos períodos mais desafiantes da história recente”, adopte uma estratégia de redução de dívida, que deverá ser compensada pela aposta no “financiamento estável”, nomeadamente, pela captação de depósitos. Actualmente, o rácio de transformação crédito depósitos (...) está acima de 140 por cento, valor que para o BdP aconselha a baixar para 120 por cento.

O BdP reconhece que as “perspectivas quanto ao enquadramento da actividade” bancária “são dominadas por uma elevada incerteza”. Isto porque o ajustamento dos desequilíbrios estruturais macro-económicos tenderá a traduzir-se, no curto prazo, “em quedas significativas” do produto.

A banca nacional vai passar por “um período difícil” que exigirá “um significativo esforço de adaptação e resistência”. A instituição liderada por Carlos Costa diz que é essencial e “altamente desejável” que o sector reduza o seu endividamento com “base em estratégias” que permitam continuar a financiar a economia, nomeadamente, as boas empresas que operam no sector de bens transaccionáveis (os sectores mais produtivos e competitivos da economia), baseando “a sua avaliação e selecção em critérios de viabilidade e produtividade”.

Em síntese: o programa de ajustamento da banca, às novas exigências da troika, diz o BdP, vai ter de se preocupar em minorar o inevitável impacto negativo na economia nacional.

No que respeita à actividade bancária, o supervisor diz que se vai assistir a uma desaceleração da concessão do crédito “no curto prazo, num quadro de expectável contracção do consumo privado”, mas terá de o fazer para nao ter grande impacto ao nível da economia.

Notícia actualizada às 13h40
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