BTT, a plataforma giratória do ciclismo
“Somos a modalidade com o maior número de atletas amadores. Somos muitos milhares”, refere. A Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) agradece este crescimento inusitado. O número de atletas federados tem aumentado a um ritmo de aproximadamente 25 por cento por ano e, segundo o antigo ciclista profissional e actualmente responsável federativo Delmino Pereira, este facto representa uma das grandes esperanças para “revitalizar o ciclismo de estrada, actualmente em forte declínio”. “A expectativa é que muitos daqueles que praticam BTT passem depois para o ciclismo de estrada”, explica, esclarecendo que nunca viu uma actividade desportiva sofrer tamanho crescimento.
Este salto quantitativo reflecte-se no número de participantes inscritos nas competições da modalidade. As provas de maratona (uma das variantes), por exemplo, contam em média com 900 participantes, chegando aos 4000 na prova que anualmente decorre em Portalegre. “A importância do BTT é tal que tivemos de criar um departamento próprio. Há 480 clubes federados nesta vertente e estão a aparecer colectividades com secções de BTT que nunca tiveram nada a ver com desporto de bicicletas”, explica Delmino Pereira, que participou em várias Voltas a Portugal e agora lidera a secção de BTT na FPC. “Só na vertente puramente competitiva, o número de atletas passou de 290 em 2010 para mais de 400 este ano”, sublinha, anotando que a mesma tendência se regista no sector feminino. “No ano passado, havia apenas 19 mulheres na maratona; este ano, são já 36”.
A federação procura aproveitar a moda. No último ano, duplicou a realização de provas (nas várias vertentes do BTT), muitas delas internacionais, que contam, em média, com atletas de 15 nacionalidades. Todas elas abertas a federados e não federados, com os últimos obrigados a obedecer aos regulamentos, entre os quais a obrigatoriedade de um seguro e a necessidade de se submeterem a um controlo que evite a participação de atletas suspensos por “doping”.
O que explica este sucesso? O facto de permitir a participação de toda a família e possibilitar um permanente contacto com a natureza, respondem os praticantes. “Andamos em vales, ao ar livre, em trilhos de terra a apreciar paisagens lindíssimas. Estou fascinado”, confessa Marco Chagas, ex-ciclista profissional, vencedor de três Voltas a Portugal e agora habitual praticante de meia-maratona de BTT. “É um desporto saudável em que não existe o perigo de encontros com carros e camiões na estrada”, explica. E Chagas não é a única ex-estrela do ciclismo seduzida pela nova modalidade. O vencedor da Volta a Portugal de 2000, Vítor Gamito, também trocou o asfalto pelo campo. “Há muitos meus ex-colegas que se renderam a este desporto”, frisa Marco Chagas.
“Dinâmica transversal”Os praticantes aumentam por todo o país, mesmo que os prémios monetários - “uma vitória rende apenas cerca de 300 euros”, indica David Rosas - não permitam a profissionalização. “Há uma dinâmica transversal, de norte a sul, do interior ao litoral”, explica Delmino Pereira. Dados confirmados pela Associação de Ciclismo da Beira Interior, que tem registado um crescimento anual de muitas centenas de praticantes. “Não podemos ter uma ideia exacta, porque só alguns querem ser federados”, conta Luís Dias, um dos responsáveis do BTT nesta associação. Uma visita à cidade da Guarda, de resto, confirma estes dados. Os cartazes a anunciar provas surgem por todo o lado. Aparece também uma loja para os mais exigentes: a GarBike. “É uma casa de referência na região, criada por dois jovens atletas”, diz Luís Dias. Ali reúnem-se praticantes para afinar as suas máquinas. No expositor, as bicicletas custam de meio milhar a alguns milhares de euros. Na sua maioria, importadas.
As fábricas portuguesas também estão a apostar neste mercado. A histórica Órbita, por exemplo, tem uma equipa competitiva de BTT para testar os seus novos modelos. “Estamos ao nível dos melhores, mas os portugueses ainda preferem o material importado. Daí que 80 por cento da nossa produção seja para exportação”, refere o responsável da empresa Aurélio Ferreira. A Jorbi, criada há cerca de um ano e que patrocina uma equipa profissional de estrada, também está a dedicar tempo ao BTT. “Utilizamos tecnologia avançada e já temos uma equipa de BTT para testar devidamente os produtos”, remata o director da empresa Jorge Baeta.
Portugal perto de se qualificar para os Jogos Olímpicos na vertente “Cross Country”
Portugal está a um passo de conseguir um feito inédito: qualificar-se para os Jogos Olímpicos de Londres de 2012 em ciclismo, na modalidade “Cross Country”, uma disciplina do ciclismo todo-o-terreno que é modalidade Olímpica desde 1996. A selecção nacional ocupa o 27.º lugar no ranking da União Ciclista Internacional, ou seja, está a três posições do apuramento para o maior evento desportivo mundial, onde vão competir as 24 melhores selecções do mundo. A equipa portuguesa tem até 22 de Maio de 2012 para chegar ao 24.º lugar. “Falta um ano e temos boas possibilidades”, disse ao PÚBLICO o seleccionador nacional, Pedro Vigário, adiantando que Portugal está a lutar com armas desiguais quando comparado com países como Suíça, França, Espanha, Alemanha ou Itália, que contam com atletas profissionais. “Mas temos feito um bom trabalho e estamos a aproveitar uma excelente fornada de ex-juniores”, refere o técnico, lamentando que em Portugal não existam condições para alguns atletas conseguirem dedicar-se a tempo inteiro à competição. “Mas, como existem tantos praticantes, há sempre algum espaço de recrutamento”.