O desenvolvimento sustentável e o greenwashing

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O bem ambiental praticado com ética deverá ser uma bandeira levantada por empresas, Estado, ONGA e outras entidades

Greenwashing é um termo em língua inglesa usado quando uma empresa, organismo público, organização não governamental (ONG), ou qualquer outra entidade, divulga ou promove práticas ambientais positivas, quando a quase totalidade da sua actuação é claramente contrária aos interesses ambientais e ao desenvolvimento sustentável. Trata-se do uso de ideias ambientais para a construção de uma imagem pública positiva de "amigo do ambiente" que, porém e infelizmente, não é condizente com a real gestão, negativa e causadora de degradação ambiental. O greenwashing tem sido uma prática de gestão (nociva, claro) muito adoptada. Numa fase em que o ambiente está na "moda" somos bombardeados com exemplos de "bens ambientais" que me deixam na dúvida: ter que me fazer sócia de um ginásio e de lá consumir determinados produtos, para poder ajudar na reflorestação é, na verdade uma mais-valia ambiental? O que são os "biocombustíveis", que ocupam solo, quando o solo é um bem escasso ao nível nacional e planetário e indispensável para a alimentação humana?

Um facto é, que frequentemente, vemos cada vez mais empresas (as mais ricas) a investir em iniciativas ambientais para encobrir, na verdade, danos ambientais. Até na política se pratica greenwashing para seduzir eleitores e determinar os rumos da economia. Mas o que mais me choca é o ver organizações nãogovernamentais de ambiente (ONGA) a praticar greenwashing, como forma de captação de recursos públicos ou privados. São ONGA que proclamam o bem ambiental acima de tudo, mas que financiam as suas actividades com dinheiros vindos de empresas ou outras entidades absolutamente poluidoras no que se refere ao ambiente - ficando estas, de imagem lavada, greenwashing. Aproveitam assim a "onda ambiental" - pela necessidade de todos nos responsabilizarmos por um desenvolvimento mais sustentável - para passarem a ser "verdes", beneficiando da imagem muito positiva que as ONGA ainda têm na opinião pública.

Fica outra questão: serão estes financiamentos aplicados no bem ambiental? Ou serão posteriormente desviados para aplicação em actividades ou empreendimentos causadores de degradação ambiental? Urge combater esta praga que pretende macular os verdadeiros propósitos ambientalistas do desenvolvimento sustentável. É necessário que haja verdadeira compreensão, principalmente por cidadãos e órgãos fiscalizadores (através de uma certificação credível), do que são, de facto, entidades e práticas que contribuem para o bem ambiental. Importante é identificar o que é "desenvolvimento sustentável" advindo do Relatório de Brundtland em 1987.

Sou uma entusiasta do bem ambiental como meio de crescimento. O importante, todavia, é que tal crescimento se dê sob a óptica do desenvolvimento sustentável. Abrir os olhos para os males causados pelo greenwashing é um passo importante para consagrarmos a adequada utilização dos recursos ambientais. O planeta Terra não merece mera camuflagem. O bem ambiental praticado com ética e responsabilidade deverá, esse sim, ser uma bandeira levantada por empresas, organismos do Estado, ONGA e outras entidades, de forma a proporcionar verdadeiros benefícios ambientais, sociais e económicos. Arquitecta especialista em construção sustentável. Ex-dirigente da Quercus ANCN

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