O bom hábito de ganhar na Europa

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Falcao no momento em que cabeceia para o golo Dylan Martinez/Reuters

Era a final portuguesa de uma competição que um jornal italiano tinha há duas semanas chamado a “Liga Portugal”. Um país tão pequeno, nem sempre valorizado na Europa do futebol, ainda por cima em grande crise, colocava, em Dublin, FC Porto e Sporting de Braga, não apenas da mesma nacionalidade, mas até geograficamente próximos dentro do próprio. Acabou por ganhar aquele que está mais habituado a finais europeias, o FC Porto, por 1-0. Um golo de Falcao bastou para acabar com o sonho europeu da equipa minhota e para conquistar o quarto troféu europeu para os portistas, que apenas falharam uma vez nas cinco finais em que participaram.

Como o mais chato dos jogos da Liga portuguesa, nada de acordo com a solenidade da ocasião, portistas e minhotos davam razão a quem preferiu ignorar esta final do Dublin Arena, demasiado calculistas. Muito jogo a meio-campo, pouco avanço na direcção das balizas adversárias, muito pouco para aquecer a festa portuguesa nas bancadas. Domingos foi bastante cauteloso e entrou com Vandinho e Custódio de início, Villas-Boas honrou o seu plano de ataque habitual e não o descaracterizou.

Custódio ainda deixou a impressão que o jogo podia ser mais animado desde o início, com um remate aos 4’ que saiu pouco ao lado da baliza de Helton, mas essa esperança de espectáculo desapareceu rápido. O FC Porto também teve o seu fogacho, aos 7’, com Hulk a deixar Sílvio e Paulo César pelo caminho e a atirar por cima da trave. Depois disto, ambas as equipas quase desapareceram do relvado até quase ao fim da primeira parte, excepto num momento, à meia-hora de jogo, em que Sílvio entrou por trás e de carrinho sobre Guarín, e merecia ter visto o cartão vermelho.

Mas então apareceu Falcao, o senhor antimonotonia, o pior inimigo dos empates sem golos. Por ele vale a pena suportar 44 minutos de jogo sem grande interesse. Foi mesmo a acabar a primeira parte. Guarín recebeu a bola no flanco direito, meteu-a na área e o avançado colombiano, nas costas de Paulão, cabeceou sem qualquer hipótese para Artur. Bem mereceu Falcao ver uma enorme bandeira do seu país na bancada. A sua cláusula de rescisão é de 30 milhões de euros, cada vez mais uma pechincha para os clubes com dinheiro…

Poucos segundos para o Sp. Braga reagir, o intervalo chegou logo a seguir e Domingos teria de fazer alguma coisa. Tirou o lesionado Rodríguez e o desinspirado Hugo Viana, fez entrar Kaká e Márcio Mossoró. E o técnico minhoto quase acertou em cheio. Fernando perdeu a bola no meio-campo, Mossoró correu com ela nos pés entrou na área sem oposição, mas não bateu Helton, que defendeu com uma perna.

Foi o mais perto que o Sp. Braga esteve do golo em toda a partida, apesar de se ter mostrado um pouco mais activo perante um FC Porto, bem longe do auge das suas forças, mas com espírito suficiente para manter as coisas sob controlo. Os minutos passavam sem que nada de extraordinário acontecesse, muito depressa para quem perde, muito devagar para quem ganha. No último dos três minutos de compensação, o guarda-redes Artur Moraes saiu da sua baliza, foi para a área adversária no momento em que Alan se preparava para marcar um livre, o supremo acto de desespero num jogo de futebol - o guarda-redes a tentar ser mais um no seu ataque. A bola chegou, de facto, à cabeça do brasileiro, mas falhou a baliza portista.

“Vamos ganhar a Taça, como em 2003”, era o que os adeptos portistas, em maioria na arena, cantavam desde o primeiro segundo do jogo e a espera por mais um troféu estava prestes a terminar. Deixou de ser uma festa para todos. E o cântico mudou o seu tempo verbal, “Ganhámos a Taça, como em 2003.” E em 2004. E em 1987. A quarta honra europeia de um clube que tem sido o mais ganhador em Portugal dos últimos tempos. E os jogadores portistas também honraram a brilhante carreira do seu adversário, fazendo a guarda de honra aos jogadores do Sp. Braga enquanto estes subiam para receber o prémio de consolação – e mais uma derrota em finais europeias para Custódio e Miguel Garcia, depois de 2005, em Lisboa, enquanto jogadores do Sporting; neste aspecto, João Moutinho sai vencedor da aposta que fez com um dos seus antigos colegas.

O primeiro a cumprimentar Michel Platini na bancada de honra, a receber a medalha e a ver a Taça mais de perto foi precisamente aquele que esteve em todos os sucessos europeus do clube, Jorge Nuno Pinto da Costa, o presidente que voltou a escolher bem o homem para comandar os destinos do futebol portista, André Villas-Boas, que também já é especial por direito próprio. Não foi um passeio triunfal, como em tanta outras vezes esta temporada. Foi uma conclusão pouco espectacular, mas serena.

Positivo
Helton

Se Falcao resolveu, Helton segurou. Quando Mossoró lhe apareceu pela frente fez uma grande defesa com a perna e evitou que o Sp. Braga empatasse e ganhasse moral. Teve algumas falhas num ou noutro lance, mas deixou a sua marca em mais este triunfo portista.


Hulk

Apesar de não ter estado nos seus melhores dias (quase ninguém esteve), o brasileiro foi quem mais animou o ataque portista, criando perigo em ambos os flancos e chegou a estar bastante perto do golo.


Alan

Mesmo pouco acompanhado, tentou dinamizar o ataque minhoto e teve alguns pormenores de bom efeito, mesmo que por vezes inconsequentes. Foi o melhor de um ataque bracarense desinspirado.


Negativo
Hugo Viana

Não foi a influência criativa numa equipa em que o primeiro objectivo era a contenção. Mais, foi bastante conflituoso e agressivo no mau sentido. Viu um cartão amarelo e foi bem substituído ao intervalo.


Centrais do Sp. Braga

Paulão não marcou Falcao com eficácia no lance do golo e Rodríguez mostrou que não estava nas condições ideais de alinhar, tendo saído ao intervalo. Kaká não teve grande influência no resultado, mas também não fez a diferença.


Qualidade do jogo

Salvou-se a festa portuguesa, animada e sem incidentes, porque esta final de Dublin não foi, de todo, um grande espectáculo. Tudo bem que já é um jogo de fim de época, em que as equipas já estão cansadas, mas esperava-se um pouco mais.


Ficha de jogo

FC Porto 1Sp. Braga 0

Jogo no Estádio Dublin Arena, na Irlanda. Assistência 45.391 espectadores.

FC Porto

Helton 7, Sapunaru 6, Rolando 7, Otamendi 6, Álvaro Pereira 6, Fernando 5, Guarín 6 (Belluschi 5, 73’), João Moutinho 6, Hulk 6, Varela 5 (James Rodríguez -, 79’) e Falcao 8.


Treinador André Villas-Boas.


Sp. Braga

Artur 6, Miguel Garcia 6, Paulão 5, Rodríguez 4 (Kaká 5, 46’), Sílvio 6, Custódio 7, Vandinho 6, Hugo Viana 4 (Mossoró 5, 46’), Alan 6, Paulo César 5 e Lima 5 (Meyong 5, 66’).


Treinador Domingos Paciência.


Árbitro

Carlos Velasco Carballo 6, de Espanha. Amarelos Hugo Viana (23’), Sílvio (30’), Sapunaru (49’), Miguel Garcia (55’), Mossoró (59’), Kaká (80’), Helton (90’) e Rolando (90’+3’).

Golos

1-0, por Falcao, aos 44’.

Notícia actualizada às 23h08
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