Protestos de refugiados palestinianos no dia da Nakba abriram nova fase de luta contra a ocupação israelita

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Protestos no Egipto

Os protestos palestinianos de domingo foram de tal modo inusitados que o que começou por ser visto como uma terceira Intifada rapidamente passou a ser retratado como o seu oposto: protestos não-violentos semelhantes aos da chamada Primavera árabe. Protestos com potencial de replicação, a que Israel não sabe como responder. Protestos que redefiniram já o conflito israelo-palestiniano.

Refugiados palestinianos vindos da Síria e do Líbano deitaram abaixo vedações e atravessaram zonas-tampão, entrando mais profundamente em Israel do que qualquer Exército na última geração. Israel fez queixa na ONU contra o Líbano e a Síria por violação do direito internacional e resoluções; o Líbano fez queixa contra Israel por disparos para o seu território.

Mas depois das descrições de domingo se terem focado na violência (afinal morreram 12 pessoas por tiros dos soldados israelitas) no 63.º aniversário da criação do Estado de Israel (dia que para os palestinianos é a Nakba, catástrofe, do seu êxodo), as análises de ontem sublinhavam que este parece ser o início de uma nova estratégia palestiniana de não-violência, que surge a par com a discussão em Setembro, na ONU, do reconhecimento de um Estado.

Até agora, protestos palestinianos inspirados pela Tunísia e pelo Egipto tinham conseguido um acordo entre Hamas e Fatah, as duas facções desavindas.

Mas os protestos mais fortes acabaram por ser protagonizados pelos refugiados: foram dezenas de milhares de manifestantes na Síria e no Líbano sim, onde poderes terão tido interesse em permitir as marchas, mas também no Egipto e na Jordânia, onde as autoridades controlaram os protestos (no Cairo saíram à rua várias centenas de pessoas, 358 ficaram feridas pela actuação da polícia e 186 foram detidas), e ainda na Cisjordânia e em Gaza.

A revista Time falou com Fadi Quran, um organizador do movimento que promoveu as marchas. "Vamos continuar o treino de não-violência, vamos continuar a marchar pacificamente, até que seja muito claro quem é que está a violar direitos humanos."

Os palestinianos estão "a criar factos no terreno", diz o analista Peter Beinart no site Daily Beast. O primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana, Salam Fayyad, desenvolveu uma "estratégia para a época pós-americana": "se [Benjamin] Netanyahu continuar a entrincheirar a ocupação e os líderes palestinianos a pedir sem violência um Estado, não vai interessar o que [Barack] Obama faz" - o Presidente norte-americano (que recebe Netanyahu esta sexta-feira) "será ultrapassado".

Em Israel, debate-se agora como devem as forças de segurança reagir a novas investidas dos palestinianos. Os refugiados, reduzidos quase a uma abstracção (enumerada entre os pontos mais problemáticos de resolver para um acordo de paz), parecem surgir agora com toda a força e tornar-se um factor essencial: afinal, há 4,8 milhões de refugiados palestinianos.

Israel, escrevia Alex Fishman, analista do diário israelita Yeditoh Ahronoth, "não tem meios para impedir a violação das suas fronteiras por centenas de milhares de palestinianos que vão organizar-se e cumprir o sonho de regresso."

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