Casa de Cavaco Silva tem duas marquises

Vidros espelhados garantem a privacidade

Foto
Joana Freitas

Uma tem estores brancos, a outra não. Ambas possuem vidros espelhados, de forma a que os curiosos não possam bisbilhotar o que se passa lá dentro. As marquises mais famosas do país (no foto acima) ficam na Travessa do Possolo, em Lisboa, e pertencem a Cavaco Silva.

A vizinhança assegura que o alumínio apareceu a cobrir as duas varandas já lá vão duas boas dezenas de anos. "Primeiro ele só tinha um andar, depois é que comprou o apartamento do lado", descreve um vizinho da rua do lado, reformado, a quem as marquises metem confusão. "São horríveis. Mas coadunam-se bem com Cavaco Silva, que é um urbano desintegrado", continua Pedro Caeiro. "Ele tem o estilo de uma marquise." Dona de uma varanda envidraçada, uma moradora da travessa defende Cavaco: "Por que é que o Presidente não há-de ter a sua marquise?"

"Todos gostaríamos de sentir que aqueles que nos dirigem têm altas exigências estéticas, que estão um pouco acima da média em termos culturais", resume o arquitecto Manuel Graça Dias. "Mas estas marquises significam que, num sistema democrático, uma pessoa banal também pode ascender à Presidência da República". Cavaco foi um dos governantes interpelados pelo homem que, em 2009, lançou uma campanha contra as marquises em Portugal, Luís Mesquita Dias. "O uso das marquises banalizou-se de tal forma que até a família Cavaco as tem. Admito que hoje não as fizessem", diz o activista.

Perguntámos ao porta-voz do Presidente por que razão "marquisou" ele as varandas e qual a utilização que lhes dá. Não obtivemos resposta.

Quando, na noite da primeira vitória de Cavaco para a Presidência, em 2006, as televisões mostraram o recém-eleito na sua marquise, o humorista Ricardo Araújo Pereira não resistiu a comentar: "Duvido que Bush alguma vez tenha posto os pés numa marquise, quanto mais ter-se deixado filmar nela. Suspeito que a rainha de Inglaterra não saiba, sequer, o que é uma marquise. Quando penso em Cavaco Silva, só me ocorre a imagem do novo Presidente a falar ao telefone na marquise. Nem eu nem o país merecemos isto. Até porque, se havia coisa de que Portugal não estava precisado era de um incentivo à construção de marquises. Como é evidente, as poucas pessoas que ainda não têm a varanda fechada (em Lisboa, acho que são sete), viram Cavaco a passear na sua marquise e não puderam deixar de pensar: "Eu também quero uma coisa daquelas". Aquilo que o que o povo português viu na noite das presidenciais (...) foi uma hora de publicidade gratuita ao comércio de caixilharias". A.H.

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