Torne-se perito

Louçã sai reforçado da convenção do BE, apesar das críticas internas

No encerramento da VII Convenção do Bloco de Esquerda (BE) ontem, em Lisboa, continuaram a ouvir-se críticas à actual direcção dos bloquistas, cujo rosto principal é Francisco Louçã. Mas, apesar das vozes que se ergueram, sobretudo contra o apoio à candidatura presidencial de Manuel Alegre, os ecos da oposição interna não conseguiram alterar o quadro dirigente do BE.

A moção A, que contava com Louçã à cabeça "venceu maioritariamente", segundo o presidente de mesa Pedro Soares. A lista elegeu igualmente o maior número de membros para a mesa nacional do Bloco, órgão máximo entre convenções. De um total de 80 dirigentes, a actual direcção garantiu 65 presenças, mais duas do que na última convenção, em 2009. Dos 65 membros eleitos, 20 estreiam-se neste órgão.

Sem grandes novidades e com pouca renovação, o actual quadro dirigente saiu reforçado da reunião magna dos bloquistas. Miguel Portas, antes do início do conclave, tinha defendido, em entrevista ao PÚBLICO, um "processo de renovação acelerada" no Bloco, justificando que a um novo ciclo devem corresponder "novos rostos" e mostrando-se disponível para dar o seu contributo.

Apesar dos números favoráveis a Louçã, a oposição interna fez-se sentir durante os dois dias de convenção. O apoio a Manuel Alegre continuou a ensombrar a unidade da esquerda que quer "mudar de futuro". E a crítica de muitos militantes marcou presença no palco. Mas da parte da direcção bloquista não houve respostas. Apenas o deputado João Semedo subiu ontem ao palanque para reafirmar a opção na corrida para as presidenciais, por uma candidatura contra "as privatizações, o FMI" e na defesa do Estado social.

Já a moção de censura, apresentada ao Governo socialista em Março, passou praticamente ao lado da convenção. Gil Garcia, líder da Ruptura/FER e primeiro subscritor da Moção C, pegou no assunto apenas para dizer que foi de "forma atabalhoada" que o BE tentou "camuflar" o apoio a Alegre. Apoio que Jorge Céu, subscritor da Moção D, afirmou que veio a "traduzir-se num erro político", que se revelou num "fracasso eleitoral." E foi também apenas esta a moção, das quatro apresentadas, que se descolou de uma aproximação ao PCP, que marcou igualmente a agenda dos discursos. Louçã optou por não se dirigir directamente aos comunistas.

Garcia foi mais uma vez o rosto principal da crítica. Conseguiu assegurar a permanência de 11 membros na mesa nacional e avisou o líder que só voltará a contar com a Ruptura/FER quando "discursar à esquerda contra os governos do regime." Já a Moção D elegeu Helena Carmo e Teodósio Alcobia para o mesmo órgão.

Rita Brandão Guerra

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