As elites já não querem estudar Letras
Os cursos de Letras têm vindo a perder alunos para Ciências e Engenharias. As elites não põem os filhos a estudar História, Filosofia ou Literatura. Mas talvez façam mal, dizem alguns. Estudar Letras ajuda a desenvolver um pensamento crítico e criativo. E, cansadas de tanto especialista, as empresas (para não falar da própria sociedade) começam a procurar pessoas com outro perfil, que conheçam o passado, a história das ideias, que saibam ler um texto e cruzar saberes. E já há universidades a tentar dar resposta a isso. As Letras querem renascer.
João Valsassina não sabe dizer com exactidão mas calcula que é há sete ou oito anos que o seu colégio - o Valsassina, em Lisboa - já não abre a área de Línguas e Humanidades, por falta de alunos interessados. "Cheguei a ter duas turmas nessa área e no espaço de dez, quinze anos, passámos dessas duas turmas para a fuga total. Quanto muito temos dois, três alunos, que querem ir para Direito." E nem vale a pena perguntar, porque é evidente - ninguém fala em ir para Literatura, Filosofia, História. "É um vazio assustador", confirma o director.
E assim, neste momento, o Valsassina tem entre 67 e 70 por cento dos alunos na área de Ciências e Tecnologias, e, bastante mais abaixo na escala, alunos em Ciências Sócio-Económicas e Artes Visuais. "Tem tudo a ver com a empregabilidade", constata. Em muitos casos são os pais que tentam convencer os filhos de que o melhor é estudar numa área que dê acesso a cursos como Medicina ou Engenharia. Antes ainda havia muitos interessados em ir para Direito, mas "a ideia que se começou a difundir de que há uma grande saturação nessa área, tal como na Arquitectura, leva os pais a dizerem aos filhos "não vás para aí, não tem saída"".
Helena Lopes conhece bem essa conversa - não da parte dos pais, mas dos próprios professores e enfim... de quase toda a gente. "O meu interesse pela História começou cedo, mas terá sido com 14 anos que decidi que iria estudar História no futuro", conta. "A vocação já estava lá adormecida desde criança, mas foi despertada por um professor que tive no 8.º e 9.º ano que nos mandava fazer trabalhos de pesquisa e transmitia a ideia de que a História não eram apenas datas de batalhas e nomes de reis, mas abrangia outras áreas, como a música, a literatura ou a pintura."
Quando teve de escolher o agrupamento, Helena não tinha dúvidas. "Mas foi aí que comecei a ouvir os primeiros avisos", recorda. "Como era muito boa aluna a todas as disciplinas, os meus professores de Matemática, p