“Foi feita justiça”

Obama anunciou oficialmente a morte de Bin Laden esta madrugada
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Obama anunciou oficialmente a morte de Bin Laden esta madrugada Foto: Jason Reed/Reuters
Milhares de norte-americanos celebram junto à Casa Branca
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Milhares de norte-americanos celebram junto à Casa Branca Fotografia: Jim Young/Reuters
A bandeira americana tem sido uma constante nas ruas de Nova Iorque
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A bandeira americana tem sido uma constante nas ruas de Nova Iorque Foto: Eric Thayer/Reuters
Em vários países ouviu-se em directo o anúncio de Obama
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Em vários países ouviu-se em directo o anúncio de Obama Foto: Naseer Ahmed/Reuters

Era o “inimigo número um” da América e foi morto esta segunda-feira numa operação em Abbottabad, no Paquistão. O fim de Osama Bin Laden não é o fim da Al-Qaeda, mas “tornou o mundo mais seguro”, disse o Presidente norte-americano Barack Obama. “Foi feita justiça”.

A operação estava a ser preparada há vários anos. O líder da organização terrorista Al-Qaeda e alegado mentor dos atentados de 11 de Setembro de 2001, que derrubaram as Torres Gémeas em Nova Iorque e causaram a morte de cerca de 3000 pessoas, vivia numa mansão fortificada em Abbottabad, a cerca de 50 quilómetros da capital paquistanesa, Islamabad, e foi aí que hoje foi morto por militares norte-americanos. Os testes de ADN confirmaram a sua identidade “com 99,9 por cento” de certeza, segundo responsáveis da Administração norte-americana. O corpo foi lançado ao mar e ainda não foram divulgadas fotografias.

O Presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou a morte do homem mais procurado do mundo quando era madrugada em Lisboa. “O corpo de Bin Laden está na posse dos Estados Unidos”, afirmou. Mais tarde, órgãos de informação norte-americanos disseram que o corpo tinha sido lançado ao mar.

“Há quase dez anos, sofremos o pior ataque de nossa história. Um dia que nunca sairá da nossa memória. Hoje, às famílias que perderam alguém na guerra contra o terror podemos dizer que a justiça foi feita”, declarou Obama.

Horas depois o Presidente norte-americano falou aos jornalistas sobre a operação em que o líder da Al-Qaeda foi morto e sublinhou que “o mundo é agora um local mais seguro, é um sítio melhor devido à morte de Bin Laden”. E adiantou: “O nosso país manteve o empenho e a justiça foi feita. Hoje lembramo-nos, como nação, que não há nada que não possamos fazer quando nos recordamos do sentimento de unidade que nos define”.

O corpo de Osama Bin Laden foi deitado ao mar após uma cerimónia fúnebre que terá tido lugar a bordo do porta-aviões norte-americano Carl-Vinson, depois de ter sido lavado e envolto num lençol branco, de acordo com os rituais fúnebres muçulmanos, numa decisão que causou polémica e inúmeras críticas. Inicialmente a CNN chegou a noticiar, com base em informações de um responsável da Administração norte-americana, que a operação norte-americana foi montada exactamente com o objectivo de matar Bin Laden, ainda que essa versão tenha sido depois desmentida pelo principal conselheiro da Casa Branca para o combate ao terrorismo, John Brennan.

“Se tivesse sido possível, Osama Bin Laden tinha sido capturado vivo”, garantiu Brennan, que sublinhou o facto de o Presidente norte-americano Barack Obama ter tomado uma decisão “corajosa”.

A operação foi um duro golpe para a Al-Qaeda, que ficou “gravemente ferida”, mas está longe de representar o fim da organização “que tem ainda alguma vida”, adiantou o conselheiro da Casa Branca numa conferência de imprensa ao final da tarde.

Brennan considerou “inconcebível” que Bin Laden, que vivia numa mansão fortificada não muito longe da capital paquistanesa e junto a um campo militar, não tenha tido um sistema de apoio no interior do Paquistão. E embora tenha considerado a parceria entre os EUA e o Paquistão “importante”, explicou que as autoridades paquistanesas só foram informadas da operação quando esta tinha terminado. “Estávamos a acompanhar a situação para garantir que os nossos homens abandonavam o espaço aéreo [paquistanês] antes da chegada da força aérea.

Apesar de Brennan ter sublinhado o apoio que Bin Laden teve no Paquistão e o facto de as autoridades paquistanesas não terem sido informadas sobre a operação, a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton disse que a cooperação com as autoridades paquistanesas contribuiu para que o líder da Al-Qaeda fosse encontrado e deixou uma mensagem aos taliban no Paquistão e no Afeganistão. “Não podem esperar que partamos, não podem derrotar-nos, mas podem fazer a escolha de abandonar a Al-Qaeda”.

Não se sabe ainda se serão divulgadas fotografias da morte do líder da Al-Qaeda, ainda que o responsável da Administração norte-americana tenha adiantado à CNN que existem imagens do corpo com ferimentos de bala na cabeça. Sabe-se que durante a operação houve trocas de tiros e que uma mulher, presumivelmente a mulher do próprio Bin Laden que se encontrava na casa, foi usada como escudo humano. Essa mulher foi morta, bem como um filho de Bin Laden e um mensageiro.

Buscas duraram anos, a operação 40 minutos

O homem mais procurado da última década pelos EUA foi morto por forças especiais norte-americanas numa operação demorou 40 minutos, segundo a BBC. Mas a recolha de informações e planeamento demoraram anos. A mansão onde vivia Bin Laden terá sido identificada no Verão passado: um complexo em Islamabad muito maior do que os da zona, com muros de mais de cinco metros em volta com arame farpado, mas sem telefone ou acesso à Internet. Terá sido construído, acredita a CIA, propositadamente para esconder o líder da Al-Qaeda.

O grande progresso na operação de busca do homem mais procurado pela América terá começado com a localização de um mensageiro de Bin Laden. Os EUA conseguiram identificá-lo há quatro anos, e há dois anos perceberam a área em que ele operava. O mensageiro, tanto mais suspeito quanto as grandes medidas de precaução que adoptava, levou à casa perto de Islamabad – uma casa tão grande, cara, e com tantas medidas de segurança que não estaria destinada apenas ao mensageiro.

Seguiram-se oito meses de recolha de informações, que terminaram nesta segunda-feira com o ataque dos EUA ao complexo, levado a cabo por uma pequena unidade num helicóptero. Bin Laden terá morrido com um tiro na cabeça depois de “tentar resistir” e de uma forte troca de tiros, segundo o diário norte-americano “New York Times”.

O local em que Bin Laden foi encontrado, na cidade de Abbottabad, tinha tido já presença da Al-Qaeda no passado; ainda este ano, lembra o "New York Times", tinha sido detido um importante operacional indonésio que trabalhava como empregado nos correios locais.

Embaixadas dos EUA em alerta

Os EUA colocaram entretanto as suas embaixadas em alerta, avisando ainda americanos no estrangeiro para serem cautelosos, evocando a possibilidade de ataques da Al-Qaeda em represália.

O efeito da morte de Bin Laden na Al-Qaeda não é claro: especulava-se que seria mais importante como símbolo, mas há também quem diga que o seu papel era ainda muito relevante em termos operacionais. Por outro lado, surge numa altura em que a retórica radical da organização sofreu já com a onda de revoltas no mundo árabe, que no fundo lhe retiraram a sua narrativa de recuperar a honra árabe.

O ataque contra o complexo, a pouco mais de uma hora de carro de Islamabad, foi levado a cabo sem ter sido dada informação ao Paquistão – e poderá assim exacerbar a tensão Washington-Islamabad.

Obama foi o Presidente que ordenou mais ataques com aviões não tripulados contra suspeitos membros da Al-Qaeda em território paquistanês, provocando ira pública e protestos oficiais do Governo. Por outro lado, o Paquistão enfrentará agora perguntas sobre como foi possível que Bin Laden vivesse não escondido nas montanhas numa qualquer zona tribal, mas sim numa mansão fortificada tão perto da capital do país.

No EUA a notícia da morte de Bin Laden foi recebida com euforia, com manifestações de regozijo junto à Casa Branca, em Washington, e no Groud Zero, em Nova Iorque, onde até aos atentados de 11 de Setembro de 2001 se erguiam as Torres Gémeas e agora se ouviu gritar “USA, USA”.

Notícia actualizada às 22h19
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