Passados dez anos, é mais difícil fazer a SIC Radical

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DANIEL ROCHA

Canal por cabo celebra uma década e quer crescer com o seu público. Este está cada vez mais exigente

"Foi de uma grande visão criar a SIC Radical há dez anos". As palavras são de Pedro Boucherie Mendes, director da estação, que completa dez anos. Mas o carácter único no canal no panorama televisivo nacional e o facto de ter sido um ninho de talentos, como os Gato Fedorento, Bruno Aleixo ou João Manzarra, justificam o auto-elogio. Hoje, o público da SIC Radical está mais exigente. E o canal quer crescer com ele. É esse o desafio para o futuro.

José Diogo Quintela é directo: "A SIC Radical foi importante para os Gato porque, na altura, não havia canal nenhum de televisão que nos deixasse fazer um programa. Foi aí que fizemos os primeiros sketches e pudemos tornar o único bigode que possuíamos no adereço com mais tempo de cena da televisão portuguesa". Quintela é um dos elementos do colectivo que se tornou um dos produtos de humor mais conhecidos entre os que nasceram da SIC Radical, o canal de cabo que hoje celebra dez anos.

Ali nasceram também os Homens da Luta, e ali foram celebrizados nomes que, embora já com trabalho mostrado, se tornaram célebres com formatos em que a SIC Radical apostou: é o caso de Fernando Alvim, nome da rádio que o público televisivo conheceu ali. Ou de Rui Unas, que, com programas como o Cabaré da Coxa, marcou uma forma de fazer televisão onde tudo era possível, até papagaios que vociferavam todo o tipo de impropérios.

"Passados dez anos, continua a não existir um canal que respire tanta liberdade e criatividade como a SIC Radical. Quase todas as grandes promessas televisivas dos últimos anos saíram dali. Fazendo uma analogia futebolística, a SIC Radical é o Ajax da televisão", afirma Fernando Alvim, que conduz a Prova Oral da Antena 3 da RDP e é um dos co-apresentadores do Cinco para a Meia-Noite, da RTP2, e que na SIC Radical começou por apresentar o programa diário Curto-Circuito e conduziu o programa de entrevista Boa Noite Alvim. Foi ali, conta, que aprendeu o que significa fazer televisão.

"Foi o início de tudo. Percebi ali que a televisão não era tão fácil e tão cómoda como a rádio. Ali comecei a aprender a dar importância à porcaria do cabelo, à roupinha, a ter uma carinha compostinha, enfim, a não ser tão javardo e despreocupado como era na rádio".

E foi ali, afirma, que conseguiu ser igual a si próprio: "Nunca como na SIC Radical fui tão igual a mim próprio. A mania da formatação mata-me. Se eu pudesse, incendiava os telepontos".

Pedro Boucherie Mendes afirma que os candidatos a apresentadores aprendem televisão como em mais lado nenhum conseguem: "Treina-se ali o que é fazer TV à séria", diz sobre a exigência de improviso e de horas seguidas em directo que tem formado muitos nomes. Solange F., Ana Rita Clara, estão entre as caras da TV que o público conheceu no Curto-Circuito. "É um programa único em Portugal, que nem a RTP 2 tem", acrescenta Boucherie Mendes.

Mas, passados dez anos, o director da SIC Radical não esconde que, com um público cada vez mais exigente, e com um acesso cada vez mais facilitado a conteúdos diferenciados de todo o mundo, são cada vez maiores os desafios que se colocam a um canal como a SIC Radical, que Boucherie diz só ter equivalente no norte-americano Spyke TV.

Ser menos juvenil

"Hoje é mais difícil fazer a SIC Radical. Estamos a procurar ser menos juvenis, menos ruidosos, ter mais classe no que fazemos. O nosso público, que há dez anos tinha 20 anos, hoje tem 30". Boucherie acredita que "o mesmo público, embora mais velho, distingue-se por continuar com o mesmo espírito. Mas exige mais".

E sobre a maior variedade de conteúdos ao dispor desse público, o director do canal frisa que o papel da SIC Radical é ainda mais exigente: "Ter tanta oferta hoje impõe a necessidade de ter um farol, uma luz que oriente o público no meio dessa variedade. Aí temos um papel a cumprir e temos acertado mais do que falhado nas apostas que fazemos. É preciso saber seleccionar". Pedro Boucherie Mendes aponta exemplos internacionais que a SIC Radical estreou em Portugal como os talk shows de Jon Stewart ou de Conan O"Brien. E destaca ainda No Reservations, o programa de viagens de Anthony Bourdain, ou Hells Kitchen, o concurso de culinária do "imprevisível" chef Gordon Ramsay, como apostas ganhas.

Para amanhã, dia de aniversário, o canal prepara uma emissão especial onde será revisitada a história da SIC Radical em português, com programas que marcaram a estação ao longo de todo o dia. E, para a semana, o canal prepara um programa comemorativo dos dez anos, apresentado por outra cara nascida na estação: Rui Sinel de Cordes chamado O quê, a SIC Radical já tem dez anos?. O mês de Abril termina com um presente para os espectadores: a chegada da nova temporada de outro clássico internacional que marca a Radical: South Park pode ser visto no sábado, dia 30, às 14h45.

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