O campeão acelerou no momento certo

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Falcao marcou o terceiro golo portista na Luz Rafael Marchante/Reuters

Da última vez que o FC Porto estivera na Luz, não há muito tempo, foi feliz. Conquistou o título de campeão, festejou molhado e às escuras. Nesta quarta-feira, os portistas deram mais uma demonstração de superioridade e apuraram-se para a sua quarta final da Taça de Portugal consecutiva (onde vai defrontar o Vitória de Guimarães) com um triunfo por 3-1 no jogo da segunda mão, depois da derrota por 2-0 no Dragão no início de Fevereiro. Os “encarnados” estiveram no Jamor até 25 minutos do fim, mas três golos em dez minutos mudaram o rumo da eliminatória.

André Villas-Boas havia dito que o FC Porto não devia entrar na Luz demasiado acelerado, não devia ter demasiada pressa em anular a desvantagem de dois golos que trazia da primeira mão. Não teve. O campeão nacional foi menos agressivo do que costuma ser, inesperadamente expectante para quem tinha de começar cedo a recuperar a esperança de chegar à final do Jamor. O tempo não iria trabalhar a seu favor. Esse estava do lado do Benfica, a quem bastava fazer a gestão do bom resultado que trouxera do Dragão, a sua única vitória sobre o FC Porto nos quatro jogos anteriores desta temporada.Ambas as equipas apresentaram, como esperado, os seus guarda-redes suplentes (Júlio César e Beto), mas, tanto Jorge Jesus como Villas-Boas, surpreenderam. Do lado do Benfica, limitado pela ausência dos seus “asas” habituais (Salvio e Gaitán) apareceram Jara e Peixoto, com apoio de Carlos Martins no meio-campo (Aimar ficou no banco), enquanto a formação portista teve o pouco utilizado Christian Rodríguez no lugar que devia ser de Varela.

A verdade é que, parecendo mais limitado nas suas opções e sem as responsabilidades ofensivas do seu adversário, foi o Benfica que começou por ser mais perigoso no jogo – embora o primeiro canto tenha pertencido ao FC Porto e, tal como no jogo do campeonato, João Moutinho foi bombardeado com vários objectos arremessados por adeptos “encarnados”. No meio de um jogo quezilento, de muito nervo e de muitas faltas, a primeira oportunidade de golo só apareceu aos 19´ - um cabeceamento de Javi García que passou rente ao poste.

O FC Porto encontrou-se no jogo pouco depois e começou a criar perigo. Minuto 28’, Rodríguez acelerou pelo lado direito, ganhou a Coentrão, chegou à grande área, mas, quando tinha Hulk e Falcao para passar a bola, atirou ao lado. A defesa do Benfica começava a abrir espaços e, num erro tremendo de Jardel, Falcao quase marcou aos 41’ após jogada de Hulk. Valeu Júlio César a deter o remate do colombiano.

Começava a dar a sensação que bastava entrar o primeiro golo portista para outros se seguirem. Os “dragões” jogavam absolutamente convictos das suas capacidades, mas o tempo ia escasseando e Villas-Boas meteu mais lenha na fornalha para aumentar o ritmo, tirando Rúben Micael para fazer entrar o irrequieto James Rodriguez.

O jovem colombiano esteve na jogada que iniciou a reviravolta. A defesa “encarnada” preocupou-se com os que estavam na área e esqueceu-se de João Moutinho, que inaugurou o marcador com um grande remate. O Benfica já não parecia muito confortável e Jesus, com poucas opções de banco, não reagiu de imediato e deixou Aimar a aquecer mais um bocado.

Talvez não fosse preciso, mas os portistas tiveram uma ajuda da equipa de arbitragem para empatar a eliminatória. Minuto 72’, Álvaro Pereira ganhou o lance na esquerda, a defesa benfiquista ficou a dormir e Hulk, em fora-de-jogo, faz o 0-2. Tudo igual na eliminatória, mas caminho aberto para a final para os portistas, que se colocaram no comando dois minutos depois, com um remate de Falcao que ainda bate em Javi Garcia.

O tempo mudava de aliados e era o FC Porto quem tinha de gerir uma vantagem. E mostrou competência, sendo apenas traído por novo erro de Carlos Xistra, que viu aos 79’ um penálti cometido por Sapunaru. Cardozo apareceu no jogo para fazer o 1-3, mas quase só teve o mérito de manter os adeptos benfiquistas mais uns minutos dentro do estádio, porque os campeões nacionais foram tudo o que uma equipa deve ser sob pressão.

Quando Xistra apitou para o final, festejaram mais uma vez os portistas, caíram por terra os homens do Benfica. E as luzes ficaram acesas.

A FIGURA DO JOGO
Moutinho, um ganhador numa equipa ganhadora

Só chegou nesta temporada ao FC Porto, mas parece que já lá está há anos. Saiu do Sporting a dizer que queria ganhar títulos e o mínimo que se pode dizer é que está a ter uma estreia em cheio. Nesta quarta-feira, desbloqueou um jogo que parecia difícil, com um poderoso remate de fora da área. Mas não foi só o golo. Foi toda uma demonstração de espírito competitivo, de capacidade mental e física do primeiro ao último minuto. Se os 11 milhões que o FC Porto pagou por ele pareciam um luxo desnecessário no início, agora é um dos imprescindíveis, tanto na equipa de André Villas-Boas como na selecção nacional. Continua o mesmo que foi nos seus anos de Sporting, mas agora está numa equipa à medida da sua mentalidade. Essa é a diferença.


POSITIVO
Hulk

É verdade que estava em fora-de -ogo no golo que marcou, mas foi sempre um perigo para a defesa benfiquista. Só esteve desastrado na hora de marcar livres. Falcao fez-lhe boa companhia e também marcou, embora com ajuda do adversário.


James Rodríguez

Entrou apenas na segunda parte, mas foi a faísca que faltara ao FC Porto para dar a volta à eliminatória. Depois de ele estar em campo, os golos começaram a entrar.


Júlio César

Não é ele o titular e, tal como Roberto, também comete alguns erros, mas o brasileiro foi o grande responsável por o Benfica ter chegado ao intervalo sem sofrer golos, com aquela defesa impossível a remate de Falcao. Não tem qualquer culpa nos golos.


NEGATIVOSaviola

Só pela falta de opções credíveis é que se explica ter ficado no jogo até ao fim. Foi um jogador a menos no Benfica. Cardozo só esteve ligeiramente melhor que o argentino porque não falhou quando foi marcar o penálti.


Defesa do Benfica

Não acompanhou o crescendo ofensivo do FC Porto. Tirando Fábio Coentrão e o guarda-redes Júlio César, o sector mais recuado dos “encarnados” deitou tudo a perder, com especial destaque negativo para Jardel, que não faz esquecer David Luiz.


Sapunaru

Não fez um mau jogo, mas perdeu a cabeça quando Carlos Xistra assinalou um penálti inexistente que teria sido provocado por ele. Felizmente para o FC Porto que só viu um cartão vermelho quando o jogo já tinha acabado.


Carlos Xistra

Passou mais ou menos incólume na primeira parte, errou em demasia na segunda, ao validar um golo ilegal ao FC Porto e assinalar um penálti inexistente a favor do Benfica. Disciplinarmente teve pouco critério, mostrando 14 cartões amarelos, nem todos justificados.


Ficha de jogo

Benfica 1
FC Porto 3

Jogo no Estádio da Luz, em Lisboa. Assistência 37.349 espectadores

Benfica

Júlio César 7, Maxi Pereira 5, Luisão 5, Jardel 4, Fábio Coentrão 6, Javi Garcia 5 (Kardec -, 86’), Carlos Martins 5, César Peixoto 6 (Weldon -, 89’), Jara 5 (Aimar 6, 78’), Saviola 4 e Cardozo 6. Treinador Jorge Jesus

FC Porto

Beto 6, Sapunaru 5 (Sereno -, 87’), Rolando 6, Otamendi 6, Álvaro Pereira 7, Fernando 7, Rúben Micael 6 (James Rodriguez 7, 62’), João Moutinho 8, Cristian Rodriguez 6 (Varela 6, 74’), Hulk 7 e Falcao 7. Treinador André Villas-Boas

Árbitro Carlos Xistra 3, de Castelo Branco. Amarelos Álvaro Pereira (18’), Maxi Pereira (21’), Cristian Rodriguez (31’), Falcao (32’), Javi Garcia (46’), Jara (59’), Cardozo (65’), Sapunaru (79’), Jardel (82’), Hulk (84’), Fábio Coentrão (90+3’) e Rolando (90+3’). Vermelho por acumulação Sapunaru (já depois de terminado o encontro).

Golos

0-1, por João Moutinho, aos 64’;


0-2, por Hulk, aos 72’;


0-3, por Falcao, aos 74’


1-3, por Cardozo, aos 80’ (g. p.).


Notícia actualizada às 23h54
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