Francisco Tropa apresenta Scenario que representa Portugal em Veneza

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Francisco Tropa apresenta a exposição que representa Portugal na Bienal de Veneza Luís Ramos

Tropa criou uma grande cena escultórica para o espaço de um histórico armazém veneziano que em tempos serviu para guardar gôndolas.

Chama-se Scenario e é uma peça expressamente concebida pelo artista Francisco Tropa para representar Portugal na 54.ª edição da Bienal de Veneza, que decorrerá entre Junho e Novembro próximos. Pensada para o espaço do Fondaco Marcello, um grande armazém veneziano situado junto ao Grande Canal, que o Estado português alugou até finais de 2012, Scenario é uma exposição que articula peças escultóricas, máquinas, designadamente dispositivos de projecção de imagens, e fragmentos da natureza.

Sérgio Mah, curador da exposição e responsável pela escolha de Francisco Tropa, descreve a peça como "uma grande cena escultórica", na qual se destacam sete dispositivos que, recuperando o princípio das velhas lanternas-mágicas, projectam, em muros de madeira estucados, imagens ampliadas de objectos que estão, eles próprios, visíveis, defronte dos projectores: uma ampulheta, uma mosca morta, uma folha seca, o filamento incandescente de uma lâmpada...

A exposição, que será inaugurada em Veneza no dia 1 de Junho, é apresentada esta manhã no Museu do Chiado, por Sérgio Mah e Francisco Tropa, numa conferência de imprensa promovida pela Direcção-Geral das Artes (DGA) do Ministério da Cultura. Responsável pelas representações oficiais de artistas portugueses em fóruns de arte internacionais, a DGA investiu cerca de 350 mil euros na organização desta exposição, verba semelhante à despendida em 2009 na anterior edição da bienal, e que inclui o aluguer do Fondaco Marcello, um edifício originalmente construído no final do século XVI para funcionar como armazém, mas que, ao longo da sua história, foi tendo múltiplas utilizações, tendo chegado a servir para guardar gôndolas.

A aposta do Estado em manter uma representação oficial na Bienal de Veneza justifica-se, segundo a sub-directora da DGA, Fátima Marques Pereira, por se tratar de "um dos fóruns de arte contemporânea mais relevantes para a divulgação e promoção" dos artistas portugueses.

Sublinhando a sua "enorme empatia com o trabalho" de Francisco Tropa, Sérgio Mah diz ter procurado "um artista que não fosse nem muito novo nem demasiado consagrado e que estivesse no pico da sua trajectória artística". Tropa, nascido em 1968, "é um dos artistas mais relevantes no panorama português e expôs nas mais importantes instituições do país, como o Museu de Serralves, a Gulbenkian ou a Culturgest", diz Sérgio Mah, que já trabalhara com o artista em 2005, tendo comissariado a exposição que este apresentou na Cordoaria Nacional.

Enquanto representante oficial do país na Bienal de Veneza, Tropa sucede a Julião Sarmento, Jorge Molder, João Penalva, Pedro Cabrita Reis, Helena Almeida, Ângela Ferreira e à dupla Pedro Paiva/João Maria Gusmão. Mas o autor de Scenario já em 2003 tivera oportunidade de mostrar a sua arte na Bienal de Veneza, tendo sido convidado, nesse ano, para integrar a sua exposição central: Dreams and Conflicts.

"Como todos os grandes eventos, a Bienal de Veneza tem um lado um bocado circense, com muitas exposições a decorrer ao mesmo tempo", diz Mah, que, por isso mesmo, quis também escolher "um artista que lidasse bem com a cidade" e cujo trabalho "reflectisse linhagens, a herança histórica". A obra de Tropa, defende, tem estas características, ao mesmo tempo que "interroga o tempo em que vivemos e repensa a função do artista e a natureza do acto artístico".

Desde Outubro de 2010 que Francisco Tropa está a trabalhar na peça que agora irá ser mostrada em Veneza. Uma obra que "lida muito bem com as circunstâncias físicas" do velho armazém para o qual foi pensada, assegura Sérgio Mah, que elogia ainda o modo como Scenario aborda questões como a relação entre original e cópia ou a oposição figurativo/abstracto.

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