O que Maomé não disse do toucinho dizem os vegan

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Humorista mariana soares

Há duas semanas um casal francês foi condenado a cinco anos de prisão por ter sido considerado responsável pela morte da filha de 11 meses, que morreu de subnutrição. Só bebia leite materno. Sucede que a mãe era vegan e, como tal, a sua dieta não incluía qualquer tipo de produto de origem animal. O leite da mãe não tinha os nutrientes necessários e a bebé acabou por morrer.

Mas os pais podem ir para o cárcere de consciência tranquila, já que durante todo este processo de definhamento de um ser humano indefeso nenhum animal foi molestado. Nenhuma vaca foi ordenhada, nenhum ovo foi surripiado a uma galinha, nenhum porco contribuiu com uma rodela de chouriço para um caldo verde, nenhum memé foi espoliado da sua lã para fazer botinhas. Nenhum animal foi maltratado. Nem sequer o Lobo Mau da história do Capuchinho Vermelho que contavam à bebé. Na versão vegan, o Lobo Mau não morre. Aliás, nem sequer é mau. Mau é o caçador, que a Capuchinho atrai a casa da avozinha para assassinar, empurrando-o para a lareira. A Capuchinho e o Lobo vivem saudáveis para sempre, alimentando-se das deliciosas verduras da sua horta biológica fertilizada com as cinzas do caçador.

Como este caso há muitos, de fácil consulta na Internet. São relatos um bocadinho impressionantes para os mais sensíveis. Aliás, é curioso que pessoas tão esquisitinhas com a comida que ingerem tenham estômago para assistir ao que acontece aos seus filhos malnutridos. Há niquentos e niquentos.

Ao ler sobre isto, é impossível não pensar nas Testemunhas de Jeová, que se recusam a fazer transfusões de sangue e a deixar os seus filhos fazê-las. Acreditam que o seu Deus proíbe as transfusões e que, ao honrar essa proibição, serão recompensados com a vida além da morte. Para quem acredita nela, a vida eterna pode ser algo por que valha a pena recusar uma transfusão. Chega-se ao além um bocadinho mais pálido, mas é uma permuta razoável. Agora, para um vegan, quando recusa a um filho as proteínas e vitaminas de origem animal, do que é que está à espera em troca? De vir a ser, depois de morto, adubo mais puro do que alguém que papou chicha da boa durante a vida?

Dir-me-ão que não se pode comparar o fanatismo religioso com o veganismo. Concordo. Ao pé do veganismo, o fanatismo religioso é praticado por moderados. Se Abraão fosse vegan em vez de hebreu, Isaac tinha sido mesmo sacrificado, apesar de o mensageiro do Senhor dizer que afinal era para sacrificar um carneiro. Apesar, não: especialmente depois de o mensageiro do Senhor dizer isso.

O problema do veganismo não é só a falta de graça da comida. É também uma contradição insanável na lógica da coisa, que impede o movimento de crescer. A transmissão dos ideais vegan é muito difícil porque, à partida, a bem sucedida catequização dos petizes está posta de parte. É um paradoxo: se um pai quer que o filho seja vegan, não o pode criar como vegan, senão arrisca-se a ficar sem prosélito. A melhor maneira de criar uma criança para vir a ser um bom vegan é com bifes e leitinho. O veganismo não tem pernas para andar. Se tem, estão mal nutridas. Direi que é uma pescadinha de rabo na boca. É uma metáfora representativa deste paradoxo e, ao mesmo tempo, uma imagem que chateia os vegan.

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