Hungria homenageia diplomatas portugueses que salvaram judeus na II Guerra Mundial

Quase 70 anos depois, as autoridades húngaras homenageiam mais uma vez na quinta-feira a acção de dois diplomatas portugueses, que durante a II Guerra Mundial conseguiram salvar cerca de mil judeus perseguidos pelo regime nazi.

Quando, em 1944, os alemães ocuparam a Hungria, tal como em outros países começou também a perseguição aos judeus. Nessa altura, diplomatas dos chamados ‘países neutros’, como Portugal, Espanha, Suécia, Suíça e o Vaticano, começaram a acolher milhares de judeus perseguidos, quer nas próprias embaixadas, quer na rede de 40 “casas protegidas” que existia em Budapeste.

Entre essas “casas protegidas”, duas eram portuguesas e, graças à acção do embaixador Sampaio Garrido e do encarregado de negócios Teixeira Branquinho, cerca de mil judeus foram salvos.

“Foi uma situação muito difícil”, recordou o actual embaixador português na Hungria, António Augusto Mendes, em declarações à Lusa, lembrando a forma como os dois diplomatas protegeram os judeus “apesar de todas as pressões dos alemães e do Governo húngaro”.

“Os diplomatas portugueses num grande gesto de humanidade e de um grande esforço profissional conseguiram, juntamente com outros diplomas de países neutros, proteger esses judeus perseguidos e facilitar-lhes a saída do país”, relatou o actual embaixador português.

Apesar de não existirem números exactos, estima-se que Portugal contribuiu para salvar “cerca de mil judeus que conseguiram sair da Hungria nessa altura protegidos com documentos portugueses”, acrescentou.

Segundo ainda o embaixador António Augusto Mendes, as “casas protegidas” faziam parte de uma rede criada pelos diplomatas dos países neutros que as puseram sob a protecção das embaixadas. Ou seja, “eram casas que estavam protegidas com se fosse um país estrangeiro”.

Com o passar do tempo, o Governo húngaro, na altura aliado com o regime nazi, tentou pressionar os chamados ‘países neutros’ para abandonarem essas “casas protegidas”, tendo muitas delas, já mesmo no final da Guerra, sido assaltadas pela própria polícia e pelos grupos nazis húngaros e alemães. “Mas, apesar de tudo, conseguimos salvar cerca de mil judeus que estavam sob a protecção de Portugal”, sublinhou o embaixador português.

Homenagem com apoio da Fundação Carl Lutz

Na quinta-feira, as autoridades húngaras vão mais uma vez homenagear a acção dos dois diplomatas portugueses numa iniciativa do XIII Bairro de Budapeste, com o apoio da Fundação Carl Lutz.

Assim, amanhã será inaugurada uma placa comemorativa da acção dos diplomatas portugueses na fachada do prédio nº 5 da rua Ujpesti Rakpart, um edifício que fez parte da rede de “casas protegidas” da Legação Portuguesa, a representação diplomática nacional na capital húngara.

Uma homenagem que o actual embaixador português na Hungria classifica como “muito gratificante”.

“É muito gratificante para nós diplomatas portugueses, porque é uma manifestação do apreço pelas acções que colegas nossos fizeram e que naturalmente dá uma grande imagem de Portugal”, frisou.

Os nomes dos diplomatas Sampaio Garrido e Teixeira Branquinho já estão inscritos numa lápide na Sinagoga l de Budapeste e numa placa na parede exterior de um hotel onde então se localizava a Legação Portuguesa.

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