A idade das estrelas

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A morte das estrelas de cinema (ou, na versão romântica, a hora em que elas trocam um firmamento por outro, etéreo e eterno) é um bom medidor do tempo. "Morreu a Garbo!" E o PÚBLICO, ainda jovem de mês e meio, fez uma das capas mais garbosas da sua história. "Morreu Marlene Dietrich!" E lá dissemos adeus ao anjo azul. "Morreu Beatriz Costa!" E o recanto lusitano perdia a "eterna menina".

Mas há dias morreu Elizabeth Taylor e essa morte já pareceu estranha. Porque ela já emigrara do cinema para outra vida e andava por aí, visível, em jornais e revistas, já longe da gata que pisava telhados de zinco quente, da angústia dos verões passados, da exuberância falsamente colossal da egípcia Cleópatra. Andava por aí, era tudo. Entre os humanos e não como Garbo, que na reclusão voluntária se manteve entre os deuses.

Só a morte de Liz, aos 79 anos, levou a recordar a estrela e os anos em que ela foi Martha, ou Leslie, ou Angela, ou Margaret ou a imperial Cléopatra. Mas se Liz morreu, e com ela uma certa memória do cinema, o que é feito de outras actrizes que, no seu tempo, enchiam capas de revistas e ganhavam celebridade? O que é feito de Sophia Loren, Brigitte Bardot, Gina Lollobrigida, Claudia Cardinalle? Estão todas vivas. Loren ainda no cinema, que praticamente nunca abandonou: em 1994 entrou no Pronto-a-Vestir de Robert Altman e, vários filmes depois, em 2009, coube-lhe, calcule-se, o papel de "mãe" de Daniel Day-Lewis em Nove, de Rob Marshall. Ah, e tem 76 anos.

Já Brigitte Bardot, com a mesma exacta idade de Loren, idolatrada como sex symbol durante anos (é certamente, e sem rival, a actriz de cinema com maior número de citações em canções pop de diversos autores e nacionalidades), disse adeus à carreira em 1973, tornou-se vegetariana e dedicou-se à defesa dos direitos dos animais, assumindo a par disso controversas posições políticas sobre a imigração ou as minorias religiosas em França.

E Claudia Cardinalle, a felina presença de O Leopardo de Visconti ou do Oeste contado por Leone? Com quase 72 anos (irá fazê-los a 15 de Abril), tem participado com regularidade em filmes, pelo menos até 2002, enquanto se vai envolvendo em batalhas políticas (à esquerda) ou pelos direitos das mulheres e dos homossexuais.

Por fim, Gina Lollobrigida: sendo a mais velha de todas elas, a caminho dos 84 anos, não largou durante décadas o cinema e tem gravado nos últimos anos várias séries de televisão. A lista de filmes que regista a presença de cada uma delas é gigantesca, embora só uma selecta parte tenha passado com chancela de "indispensável" para a história do cinema.

Mas para que não se pense que a idade é coisa que só pesa na sétima arte, a revista Uncut dedicou este mês a capa ao cantor norte-americano Paul Simon, que a 13 de Outubro completará 70 anos. Art Garfunkel, seu parceiro num dos mais célebres duos da música anglo-saxónica, também faz 70 anos, mas a 5 de Novembro. E Bob Dylan antecipa-se: será septuagenário a 24 de Maio. "Se não desapareceres nem morreres, és uma lenda", diz Simon.

Um título que a eternidade devolveu a Liz, mas só agora.

Jornalista

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