Rupturas põem em risco sistema de rega do projecto Alqueva

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O projecto do Alqueva tem tido diversos contratempos que vão adiando o seu aproveitamento total António carrapato

O canal adutor do primeiro perímetro, que custou 65 milhões de euros, acumula detritos, lama, ervas secas e fissuras no betão

As recriminações mútuas persistem entre a Associação de Regantes da Obra de Rega de Odivelas (ABORO), sediada em Ferreira do Alentejo, e a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA). Causa directa: as anomalias que persistem em condicionar o funcionamento do primeiro perímetro de rega da era Alqueva, inaugurado em Fevereiro de 2002, em vésperas de eleições para a Assembleia da República. Custou 65 milhões de euros.

Boa parte dos três troços do canal adutor - que transportam, ao longo de 17 quilómetros, a água armazenada na barragem de Odivelas, para irrigar os 5900 hectares do perímetro de rega da infra-estrutura 12 - está coberta de detritos, lenha, entulhos vários e erva.

O PÚBLICO percorreu alguns dos troços da estrutura de rega e pôde observar o cenário atrás descrito. O sinal mais preocupante reside no livre acesso a toda a gente ao canal principal, colocando em risco de segurança os seus equipamentos.

Aos roubos de portões e da rede metálica, junta-se o furto de painéis solares fornecedores de energia aos sistemas de controlo do volume e pressão da água que circula na rede de rega.

Manuel dos Reis, presidente da ABORO, confirma que "há portões danificados e actos e vandalismo" que se torna impossível controlar, admite. Também a tela geotêxtil que protege as paredes de parte do canal afectadas por fissuras, "com as amplitudes térmicas e com o sol a incidir sobre ela, retrai-se e vai encolhendo cada vez mais". Com o peso da água que circula, "não suporta a tensão que é exercida e rasga na zona onde está fixa".

Referindo-se aos problemas de manutenção do canal, o presidente da ABORO justifica a acumulação de detritos com a necessidade que há em fornecer água para rega, que não deixa nem tempo nem condições para se proceder à limpeza do equipamento.

"Construiu-se mal, houve dinheiro muito mal gasto e, até agora, "nem a EDIA nem o Estado resolveram o problema" queixa-se o presidente da associação, destacando que desde a entrada em funcionamento da infraestrutura 12, em 2004, já foram detectadas "cerca de 300 rupturas". Também o betão com que foi construído o canal onde surgem novas fissuras "é poroso e perde um elevado volume de água", acentua.

Confrontado com as acusações da ABORO, o presidente da EDIA, Henrique Troncho, diz que foram substituídos "todos os troços de condutas" que registavam rupturas, sugerindo ao presidente da associação que as contextualize, ou seja, "quantas rupturas aconteceram, e onde, após a substituição das condutas".

Referindo-se à tela geotêxtil, Henrique Troncho adianta que o problema reside na forma como a manutenção é feita, "nomeadamente com o recurso a maquinaria para desbaste de vegetação" e, nessa circunstância, a empresa "não se comprometeu" a substituí -la. Fa-lo-á quando se tratar de um problema "devidamente enquadrado em sede de gestão de garantias" que é de 10 anos. Foi colocada em 2004.

Os problemas de porosidade do betão do canal estão resolvidos nos seus três troços", garante o presidente da EDIA. Um com recurso à tela e dois com recurso a soluções indicadas pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil.

Reportando-se à falta de manutenção do canal adutor, o presidente da EDIA refuta os argumentos de Manuel dos Reis, lembrando que o uso constante de água na estrutura em causa "só é justificável em anos secos, o que não tem sido o caso dos últimos anos".

O estado actual da infra-estrura 12 induz Henrique Troncho a tecer considerações sobre o modo de gestão dos perímetros de rega de Alqueva, uma matéria que se está a revelar polémica. "É por ter a noção que estes problemas acontecem que faz sentido analisar a hipótese de uma gestão integrada e conjunta dos Perímetros de Rega do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva", defendeu.

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