ANF diz que há mais de mil farmácias com sustentabilidade ameaçada

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João Cordeiro informa que "o número de farmácias com fornecimentos suspensos pelos grossistas era já de 450" Foto: Adriano Miranda/arquivo

O presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF) revelou hoje que mais de mil farmácias estão com a sua sustentabilidade “claramente ameaçada” e revelou que nenhuma farmácia instalada em hospitais cumpriu as suas obrigações financeiras.

João Cordeiro falava no discurso de abertura do décimo Congresso Nacional de Farmácias, que decorre em Lisboa até sábado com o tema “Política Social do Medicamento”, durante o qual traçou o quadro de crise que atinge as farmácias portuguesas.

“Há 1056 farmácias, 40 por cento do número total, essencialmente rurais, cuja sustentabilidade está claramente ameaçada”, disse João Cordeiro, acrescentando: “o número de farmácias com fornecimentos suspensos pelos grossistas era já de 450, um crescimento de 76 por cento, no espaço de um ano”. Avançou ainda que “o número de processos judiciais para regularização de dívidas de farmácias ao sector grossista era de 186, um crescimento de 54 por cento, no espaço de um ano”.

No seu discurso, o presidente da ANF sublinhou: “As farmácias estão hoje mergulhadas numa crise económica e financeira que até há muito pouco tempo julgávamos inimaginável”. “O número de farmácias com acordos de regularização de dívidas com os grossistas era de 462, um crescimento de 158 por cento, no espaço de um ano”, disse.

João Cordeiro deixou uma pergunta à audiência: “Como foi possível que o nosso sector tivesse passado em tão curto espaço de tempo de uma situação de desenvolvimento para uma situação de crise?”. Esta é “uma crise que tem origem na ausência de vontade política para diagnosticar, enfrentar e resolver os problemas”, acusou.

Na sua intervenção, João Cordeiro denunciou ainda que "nenhuma das seis farmácias instaladas em hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) cumpriu as suas obrigações financeiras para com o respectivo hospital”. Sobre esta matéria, o presidente da ANF deixou outra questão: “Quanto está a custar ao Ministério da Saúde a aventura destas seis farmácias?”.

Presente na cerimónia, o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos também traçou um quadro negro, lembrando os “momentos de incompreensível adversidade, impostos pelos decisores políticos” que o sector tem vivido nos últimos quatro anos.

“As medidas sucessivas que têm vindo a ser adoptadas sobre os regimes de preços e comparticipações dos medicamentos têm criado grande instabilidade em todo o circuito do medicamento, confusão nos doentes e situações de permanente conflito aos balcões das farmácias”. Na opinião de Carlos Maurício Barbosa, “a retirada da informação do preço da embalagem do medicamento feriu quase de morte a credibilidade de todo o circuito do medicamento aos olhos do grande público”.

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