É possível ter um negócio próprio a brincar? O criador da Science4you diz que sim

Foto
Marco Maurício

Trabalhava na banca de investimento, mas decidiu criar o seu próprio emprego. Lançou uma empresa que vende brinquedos didácticos e "verdes". O volume de negócios está a crescer.

Por enquanto, estão bem longe de conseguir roubar o lugar à Barbie ou ao X-man nas grandes lojas, mas, aos poucos, os brinquedos que vão além da sua componente lúdica estão a ocupar o seu espaço. Os brinquedos didácticos e também "verdes" não estão só para brincadeiras e querem ocupar um lugar de relevo nas prateleiras.

A Science4you, empresa criada por Miguel Pina Martins quando tinha apenas 22 anos, produz e comercializa brinquedos que reúnem estes três ingredientes: lúdicos, didácticos e verdes. "São brinquedos diferentes daqueles que existem nos mercados, com uma temática tão importante para as nossas vidas, as ciências experimentais", diz o jovem empreendedor, presidente da Science4you.

Licenciado em Finanças e mestre em Gestão (actualmente a frequentar o doutoramento em Empreendorismo no ISCTE), trabalhou na banca de investimento antes de partir para o próprio negócio. A decisão não era a mais óbvia, mas decidiu arriscar. "É agora ou nunca", pensou na altura, "antes de ter casa, carro, construir uma família". E, por isso, despediu-se. Agora sente que foi a melhor decisão que tomou na vida.

Nas mãos deste jovem, agora com 26 anos, a Science4you começou a dar os primeiros passos. Empresa cem por cento portuguesa, contou com a parceria da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e o ISCTE: "a Faculdade de Ciências dá as ideias e o ISCTE constrói os planos de negócio", diz Pina Martins.

As vendas começaram em Outubro de 2008, inicialmente com seis modelos de brinquedos. Agora já conta com 27 que podem ser encontrados na FNAC, Bertrand, El Corte Inglês e Toys"r"us. São também vendidos via online, "numa média de três por semana".

Estes brinquedos "trazem um valor acrescentado relativamente aos existentes no mercado", considera, com temáticas ligadas às energias renováveis, ecologia, química, física, meteorologia, entre outros. "Trata-se de permitir às crianças experimentar aquilo que aprendem nas escolas e conseguirem aplicar de forma simples."

Para além das vendas no mercado interno, a empresa já tem presença em Espanha, Brasil, Angola e, mais recentemente, na Finlândia. Foi esta semana que a empresa comunicou o início das vendas no país nórdico, fruto de uma parceria com uma distribuidora local, a "Samulia". Aí são vendidos brinquedos da linha ECOSCIENCE - Linha de brinquedos e das energias renováveis. "Com um investimento de 10 mil euros é possível lançar a empresa noutro país", diz o empreendedor, que já pisca o olho ao Reino Unido.

"O empreendorismo é uma ajuda relevante para sair da crise portuguesa e mundial", diz o presidente da Science4you, que considera que para se ter uma atitude empreendedora é necessário ter "muita coragem, muita vontade e espírito de risco". "Foi 1125 euros aquilo que investi inicialmente", diz, pondo ênfase no facto de não ter sido preciso juntar as poupanças de uma vida para abrir o próprio negócio.

Há programas que dão o empurrão financeiro inicial, que é precisamente o maior entrave que muitos se colocam para a abertura do próprio negócio. Miguel Pina Martins contou com esse apoio, da InovCapital (Sociedade de Capital de Risco) e do programa FINICIA do IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação). Com o risco financeiro do projecto "despistado", há o tempo que é necessário investir na criação de um negócio próprio, na sua maioria, elevado. Ninguém quer vir a considerá-lo como tempo perdido e no caso desta empresa parece que tem valido a pena, já que "tem vindo sempre a crescer", diz Pina Martins.

Os números parecem confirmar essa ideia: com receitas de 260 mil euros em 2010 a Science4you conseguiu crescer 26,8 por cento face a 2009. Os lucros também aumentaram, de 20 mil euros em 2009 para 30 mil euros em 2010. Face a estes resultados, a empresa alimenta boas perspectivas para 2011, ano em que espera obter receitas na ordem dos 400 mil euros. A empresa possui 15 accionistas, sendo a InovCapital o maior investidor (detém 45 por cento do capital).

O presidente da Science4you considera que já conseguiram uma base de clientes fiéis. "Há muitos pais que gostam dos brinquedos tanto ou mais que as crianças!", diz com satisfação. Indicados para crianças a partir dos cinco anos, os preços podem ir dos 6 aos 130 euros. "A média ronda os 9,90 euros", diz Pina Martins. A Science 4you conta com 15 parcerias, entre as quais o Pavilhão do Conhecimento e o Museu da Ciência, sendo que estes brinquedos podem valer até 130 euros em bilhetes de entrada nestes lugares. "É um bom investimento", considera.

Apesar das boas perspectivas de negócio, o empreendedor considera que "a maioria das famílias portuguesas ainda vai buscar as barbies", entre outros brinquedos, mas que, apesar disso, "os pais preocupam-se cada vez mais em ter as crianças em actividades educativas". Ainda assim "basta entrar na Toy"r"us e ver que o espaço é reduzido para brinquedos educativos".

Com pouco mais de dois anos de existência, a Science4you é uma empresa pequena, conta com apenas nove trabalhadores, mas "é o exemplo de que é possível exportar com poucos recursos". Recentemente galardoada com o prémio European Enterprize Awards com o primeiro lugar na Categoria de Internacionalização a nível nacional, atribuído pela Comissão Europeia e o IAPMEI, a Science4you obtém o reconhecimento do seu lugar enquanto empresa empreendedora, que conseguiu começar a internacionalizar os seus produtos muito rapidamente (Outubro de 2009, para Espanha). "É bastante prestigiante", diz com orgulho.

Sobre a empresa que criou, Miguel Pina Martins diz que "não é trabalho", que existe uma força e motivação muito grandes para se dedicar à Science4you e vê-la crescer. "Não há aquilo de olhar para o relógio" [a pensar quanto tempo falta para se sair do trabalho]. "É mesmo a sensação de estar de fim-de-semana todos os dias. É uma vida nova."

Sugerir correcção
Comentar