Torne-se perito

Com a provocação a Passos, Sócrates programou o calendário da crise

José Sócrates sabe que a forma como pôs o país, o Presidente da República, os parceiros sociais ou o PSD perante um facto consumado com as novas medidas de austeridade - o chamado PEC IV - não deixará de provocar uma crise política, a queda do Governo e novas eleições.

O primeiro-ministro também sabe que um cenário desses pode pôr em risco a ajuda do fundo de socorro do euro que o seu Governo está a negociar há muitas semanas com os parceiros europeus, em moldes que correspondem às suas principais reivindicações, para garantir condições mais favoráveis de financiamento para o país.

E sabe-o, porque o novo PEC foi construído expressamente para constituir a contrapartida nacional que o país terá de assegurar para beneficiar dessa ajuda (ver texto ao lado).

Sendo assim, o que se esperaria do primeiro-ministro era que procurasse negociar um consenso alargado com a oposição sobre o novo PEC, em nome do interesse nacional. Em vez disso, Passos Coelho foi sumariamente informado na quinta-feira à noite, menos de doze horas antes do anúncio oficial das medidas. E, como o primeiro-ministro não podia deixar de saber, o líder do PSD não teve grande alternativa senão dissociar-se da nova austeridade.

Sócrates está a jogar no facto de o país só precisar de apresentar no fim de Abril a Bruxelas os planos orçamentais para os próximos anos. O que significa que poderá arranjar maneira de submeter o novo PEC à aprovação da Assembleia da República em meados de Abril. Ou seja, depois de concluído o acordo europeu, programado para a cimeira de 24 e 25 de Março, sobre a resposta à crise da dívida soberana, da qual o pacote de ajuda a Portugal é parte integrante.

A partir da cimeira, a ajuda poderá ser activada e o PEC submetido à AR. Se a oposição o recusar, como parece provável, o país vai a votos. O líder do PS poderá então apresentar-se como o salvador do país da bancarrota, esperando capitalizar junto dos eleitores. Caso contrário, Passos Coelho será o herdeiro da ajuda europeia e do PEC de Sócrates...

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