Torne-se perito

Geração "encravada" também marcou presença

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Manifestantes em Guimarães nelson garrido

Pais e avôs disseram "presente" e engrossaram protesto que teve diferente adesão nas várias cidades

Em Faro, a participação duplicou a adesão através do Facebook, numa jornada onde os jovens da Geração à Rasca contaram com forte apoio de pais e avós. Em Braga, baptizaram-nos até como a geração "encravada", que se vê forçada a sustentar três gerações.

Enchente em Faro

Na capital do Algarve, a manifestação de ontem foi um "balão de ensaio" para outros protestos que se anunciam para breve. "A minha geração também está à rasca", diz José Domingos, um dos dirigentes da Comissão de Luta Contra as Portagens na Via do Infante, a lembrar que o trabalho precário não escolhe idades. Em Faro, juntaram-se seis mil pessoas - uma das maiores manifestações de sempre no Algarve - a gritar "mudança, mudança para melhor". A organização contava reunir cerca de três mil pessoas, confirmadas através do Facebook, mas acabou por ter o dobro de apoiantes. Mais do que um protesto da Geração à Rasca, o que se viu foi um sinal de que "estamos todos à rasca". Não será por acaso que, ao longo do desfile, se voltou a ouvir o velho refrão: "O povo unido jamais será vencido."

Todas as gerações em Leiria

Na página do Facebook, conseguiram ultrapassar os mil apoiantes. Mas, do virtual para a realidade, a manifestação da Geração à Rasca em Leiria ficou-se por pouco mais de 500 participantes. Um protesto só para jovens? Nada disso. A cidade do Lis teve o maior equilíbrio de gerações. Jovens, "quarentões" e idosos, todos deram o "corpo ao manifesto" contra a precariedade que não escolhe idades. Às 15h começou a concentração, acompanhada de um pequeno aguaceiro. A chuva poderia ser o "maior inimigo" da manifestação. Mas, assim que alguns manifestantes deram início a uma pequena marcha em torno da Fonte Luminosa, o sol voltou a brilhar às vozes da contestação. "A luta continua quando o povo sai à rua" ou "O povo unido jamais será vencido", frases imortais que se iluminam das vozes dos mais novos e se propagam para os mais velhos.

Pais e avós em Viseu

No Rossio de Viseu, contavam-se cerca de seiscentas pessoas, mas eram os pais e avós da chamada Geração à Rasca que sobressaíam. Uma professora aposentada, a financiar a clínica dentária da filha e com um outro filho, também médico dentista, emigrado em Inglaterra, afirmou estar ali com uma intenção: "Vim confirmar se, de facto, a juventude está interessada em lutar pelos próprios interesses. Mas, pelos vistos, não está", concluiu.

Ao telemóvel, uma jovem tentava mobilizar quem podia: "Não te vens manifestar? Que preguiçoso!", gritava. "Este país vai para pior por causa de pessoas como tu", atirou.

Paulo Agante, um dos organizadores do protesto em Viseu, admitiu ao PÚBLICO que há ainda muita juventude que "está apática e com medo de represálias". No entanto, mostrou-se satisfeito com a adesão conseguida para um protesto que considera ser de várias gerações que estão "à rasca".

Milhares no Minho

Em Braga, o protesto concentrou, na Avenida Central, mais de dois mil participantes, enquanto em Guimarães, onde a concentração não estava oficializada, se juntou pouco mais de uma centena de pessoas nas arcadas do Largo da Oliveira. Nas duas cidades minhotas, mais do que os jovens descontentes, os protestos atravessaram gerações. Pais e avós participaram solidários com a falta de perspectivas de futuro para os filhos e netos e preocupados com um presente "encravado". "Somos da geração dos encravados. Sustentámos a geração anterior, sustentamos a actual e ainda temos que nos sustentar a nós próprios", dizia Carlos Veiga, professor universitário em Braga. Aos 52 anos de idade, tem dois filhos "da geração à rasca", um em situação laboral precária, outro ainda a estudar.

Velhos gritos em Coimbra

Durante uma ou duas horas, na Praça da República, em Coimbra, o vaivém foi constante. As pessoas (de todas as idades) chegavam e ficavam de mãos nos bolsos, caladas, sozinhas ou em pequenos grupos. Houve quem ficasse algum tempo - distraindo-se com a leitura dos poucos cartazes que se erguiam, aqui e ali - e depois partisse, dando lugar a outras pessoas que também não vinham para ficar. O ambiente só aqueceu (e apenas para alguns) por volta das 17h00, quando alguém sugeriu ir até à câmara, primeiro, e ao governo civil, depois. Nessa fase, quem engrossou o cortejo foi principalmente gente nova usando velhas palavras de ordem. "25 de Abril sempre", "O povo unido jamais será vencido" ou "Fascismo nunca mais".

Poucos na Madeira

No Funchal, foi fraca a adesão dos jovens ao protesto, apesar do anunciado apoio da JSD, que prometera a participação de representantes de todas as partes da Madeira e do Porto Santo. No Largo do Município, compareceu pouco mais de um décimo das 2.500 pessoas que, através das redes sociais, tinham dito que estariam. Os jovens foram pouco sensíveis ao apelo do novo líder da JSD, José Pedro Pereira. Crítico da classe política de Lisboa, exortou os madeirenses a "protestar contra as medidas adoptadas pelo Governo da República". Idálio Revez, Tânia Marques, Sandra Ferreira, Andrea Cruz, Graça Barbosa Ribeiro e Tolentino de Nóbrega

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