Museu Soares dos Reis à procura de ideias para atrair novos públicos e gerar receitas

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Neste momento, o Soares dos Reis não tem um mecenas ADRIANO MIRANDA

Dez anos após a remodelação promovida pela Porto 2001, museu aposta em abrir-se à cidade e vai perguntar às pessoas o que é preciso mudar para continuar a crescer, diz a directora

O Desterrado, a célebre escultura de Soares dos Reis, representa um rapaz imóvel, sentado e com os dedos entrelaçados, aparentemente pouco predisposto à acção. O museu que o acolhe, no Porto, não quer, porém, seguir o exemplo do seu principal ícone. Dez anos depois de ter reaberto na sequência do projecto de modernização promovido pela Porto 2001, Capital Europeia da Cultura, o Museu Nacional de Soares dos Reis (MNSR) prepara-se para abrir, ainda este mês, um concurso de ideias destinado a fazer entrar ar novo no antigo palácio real e naquele que foi o primeiro museu público português.

"Estamos abertos a tudo, a todas as propostas de uso dos espaços que se adeqúem às limitações legais e institucionais do museu. Mas, se as ideias forem muito boas, até nisso podemos abrir excepções", diz Maria João Vasconcelos, directora desde 2006. "Queremos que as pessoas nos digam o que é preciso mudar", acrescenta.

Após a modernização desenhada por Fernando Távora, inaugurada em Julho de 2001, o MNSR passou de cerca de 20 mil visitantes anuais para números na casa dos 60 mil (a excepção foi o período conturbado que correspondeu à construção do Túnel de Ceuta, que desemboca à porta do museu), mas a directora não está satisfeita e quer continuar a atrair públicos e a criar condições para que o equipamento se torne auto-sustentável. O objectivo do concurso que agora vai ser lançado passa, assim, por promover uma maior abertura à cidade e por criar uma dinâmica que afaste, de uma vez por todas, a ideia de que o Soares dos Reis é um museu fora de moda e demasiado rígido, sobretudo quando comparado com o mais mediático e contemporâneo Museu de Serralves.

Melhorar o acesso

Para já, Maria João Vasconcelos pretende assinalar o décimo aniversário da reabertura com a criação de um acesso directo da Rua de Adolfo Casais Monteiro para os jardins do museu e, daqui, para o auditório. Este projecto permitirá conceder alguma autonomia à gestão daqueles dois espaços e estabelecer uma relação com a movida artística da Rua de Miguel Bombarda, ali ao lado, mas também, por exemplo, criar uma esplanada nos jardins. O concurso de ideias, explica a directora, busca também soluções que ajudem a dar corpo a estas ideias, "tentando associar quem tenha capacidade de iniciativa e se queira juntar às iniciativas do museu".

O concurso terá um prémio pecuniário, mas o museu está ainda à procura de patrocinador. Por outro lado, não se garante, à partida, que a melhor ideia venha a ser executada, uma vez que o equipamento se debate também com restrições orçamentais: não tem mecenas e todo o dinheiro vem do Orçamento do Estado, de financiamentos comunitários pontuais e dos fundos que consegue gerar, nomeadamente na loja, na cafetaria e com o aluguer de espaços. "Queremos ideias que sejam capazes de gerar receita", reconhece Maria João Vasconcelos, segundo a qual se torna difícil a simples manutenção dos investimentos feitos. Já há, por exemplo, marcas de infiltrações numa das galerias de pintura.

"Temos, ainda assim, feito mais do que aquilo de que as pessoas conseguem aperceber-se", diz a directora, que sublinha, por exemplo, o bom funcionamento do serviço educativo, responsável por uma boa parte das visitas (um quarto dos visitantes resulta de acções escolares). Por outro lado, apenas dois mil dos 60 mil visitantes anuais são estrangeiros, aparentemente por falta de visibilidade do museu e pela fraca predisposição dos turistas para conhecerem um museu que junta pintura, escultura, artes decorativas e até arqueologia. "Os que vêm são sobretudo franceses e japoneses, estes por causa dos biombos Namban", nota Maria João Vasconcelos.

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