Especialista diz que não existe política pública de educação ambiental em Portugal

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Ana Maria Bettencourt lembrou que há uma motivação grande para os alunos das escolas aprenderem na natureza Foto: Manuel Roberto/arquivo

Portugal não tem política pública de educação ambiental e o trabalho realizado deve-se a professores “conscientes” e organizações não governamentais “preocupadas”, defendeu hoje o especialista Viriato Soromenho-Marques.

A “Educação para o Desenvolvimento Sustentável” é o tema de um seminário organizado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) que decorre hoje em Lisboa, com a participação de especialistas nas áreas do ensino e do Ambiente e uma mostra de trabalhos desenvolvidos por escolas relacionados com a preservação e o conhecimento da natureza.

Para Viriato Soromenho-Marques, responsável do Programa Gulbenkian Ambiente, “perdeu-se um pouco o ritmo e a dimensão estratégica que a educação ambiental chegou a ter” em Portugal e recordou a extinção do Instituto da Promoção Ambiental, em 2000.

“Há educação ambiental em Portugal porque há professores conscientes, organizações não governamentais preocupadas e porque as disciplinas hoje estão redigidas incluindo a vertente ambiental e as escolas quase naturalmente fazem educação ambiental”, realçou.

“Na verdade, política pública de educação ambiental, penso que não existe”, resumiu Soromenho-Marques.

A presidente do CNE, Ana Maria Bettencourt, explicou que “há muitas experiências, mas também muitas dificuldades, muitos obstáculos que têm a ver com a organização das escolas”.

Em vários projectos a decorrer assiste-se a “uma motivação grande” para a “saída” dos alunos das escolas para aprender na natureza, o que é defendido por grandes pedagogos, mas que “infelizmente não se pratica tanto como seria desejável”, apontou.

Em alguns casos, são desenvolvidas iniciativas “em que se aprende tudo, das Ciências, à Física, História e Geografia”, referiu a presidente do CNE avançando que “muitos países criaram semanas dedicadas a actividades fora da escola, gerindo os currículos de uma forma mais flexível, com menor rigidez na organização dos horários. O importante é que os alunos aprendam”, frisou Ana Maria Bettencourt.

Já o especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos defendeu que a educação ambiental “deve ser uma prioridade”. Embora seja “um desafio difícil, temos de saber transmitir às várias gerações, nos diversos graus de ensino, em particular no ensino secundário e no ensino superior, que há actualmente a necessidade de pensarmos o nosso modelo de desenvolvimento à escala europeia e mundial e ver que certo tipo de paradigmas de desenvolvimento conduzem à insustentabilidade”, salientou.

“Estamos a dar os primeiros passos, já se fala bastante em desenvolvimento sustentável, mas ainda não há a percepção real das dificuldades que esse objectivo encerra”, defendeu o professor universitário, acrescentando, no entanto, que “há uma preocupação maior nas populações sobre as questões ambientais”.

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