Republicanos e Obama conseguem evitar paralisação do Governo... por agora

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Harry Reid, líder da maioria democrata no Senado, após a votação CHIP SOMODEVILLA/AFP

O Congresso americano tem mais duas semanas para tentar chegar a acordo com a Casa Branca quanto ao orçamento

Nos últimos dias, a imprensa americana tem especulado sobre o orçamento como se fosse um policial: vai ou não haver shutdown, paralisação do Governo? A resposta acaba de ser adiada duas semanas, depois de o Congresso americano ter aprovado, na terça-feira, uma medida que permite financiar as operações do Governo até dia 18 de Março e que dá mais tempo à Casa Branca e aos congressistas para negociarem um orçamento de Estado consensual. (Caso contrário, a 18 de Março, o fantasma do shutdown estará de volta.)

A extensão de duas semanas partiu da iniciativa dos republicanos, o que parece afastar alguns rumores de que estariam interessados em provocar a paralisação do Governo. A medida temporária - na qual a maioria republicana na Câmara dos Representantes votou em bloco, bem como grande parte dos democratas - é uma espécie de orçamento em miniatura, prevendo cortes de quatro mil milhões de dólares nas próximas duas semanas. Mas, ao contrário da proposta de orçamento para o resto do ano delineada pelos republicanos, não é controversa porque os cortes previstos vão ao encontro do que o Presidente Obama sugeria no seu próprio plano orçamental, entregue no mês passado. O Senado, controlado pelo partido democrata, seguiu ontem o exemplo da Câmara dos Representantes e votou favoravelmente na medida.

Se o Congresso não tivesse aprovado a extensão de duas semanas, a lei que permite financiar o Governo iria expirar à meia-noite de sexta-feira. Em 1995 e 1996, durante a primeira presidência de Bill Clinton, a falta de acordo entre a Casa Branca e os líderes republicanos no Congresso levou a sucessivos shutdowns que fecharam parques e monumentos nacionais, dispensaram funcionários públicos durante quase um mês e, entre outras coisas, impediram os veteranos de receberem subsídios estatais. À época, a paralisação acabou por beneficiar Clinton, motivando a sua reeleição, e prejudicar os republicanos, que foram acusados de pensar no jogo político acima dos interesses do país.

Perante a perspectiva de um cenário idêntico, alguns analistas pró-democratas têm assinalado que um shutdown acabará por beneficiar a administração Obama, e líderes republicanos têm garantido que não estão interessados em paralisar o Governo - embora grande parte dos congressistas novatos, inexperientes e afectos ao Tea Party, tenham manifestado menos pudor em relação a essa possibilidade.

Nos últimos dias, as sondagens têm antecipado a opinião dos americanos em caso de shutdown, e os resultados contrariam a noção de que os democratas e a administração seriam os beneficiários da situação: a percentagem de pessoas que culparia Obama é praticamente a mesma dos que culpariam os republicanos.

No mês passado, ao fim de vários dias de intenso debate, a maioria republicana na Câmara dos Representantes aprovou um plano orçamental para este ano que prevê cortes no valor de 61 mil milhões de dólares. Os democratas, que controlam o Senado, consideram esses cortes demasiado radicais, pondo em causa áreas que têm sido causas democratas (como o novo sistema de saúde ou a interrupção da gravidez) e prejudicando a recuperação económica. Obama deu a entender que vetaria a proposta.

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