Benfica voltou a ser feliz no último minuto

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O Benfica somou a sua 18.ª vitória consecutiva José Manuel Ribeiro/Reuters (arquivo)

Objectivos intactos para o Benfica. Quase o epílogo de uma época para o Sporting. Nesta quarta-feira, no Estádio da Luz, uma equipa jogava tudo, a outra pouco. Mas foi quem tinha menos em cima da mesa que foi mais feliz. O Benfica prolongou a sua série de triunfos, vencendo pela terceira vez esta época o Sporting, garantindo a presença na final da Taça da Liga, onde irá defrontar o vencedor do encontro desta quinta-feira entre Paços de Ferreira e Nacional.

O melhor que os “leões” apresentaram nos últimos tempos, naquela que foi a estreia de José Couceiro, não foi suficiente para travar um adversário superior que foi perdulário e que voltou a ser feliz no último minuto.

Sem mais nada por que lutar esta época, o Sporting entrou no relvado a querer provar que as notícias sobre a sua morte tinham sido exageradas. Treinador diferente, mas as mesmas apostas. Couceiro alinhou exactamente a mesma equipa que alinhara (e perdera) na Madeira, guardando no banco Valdés. Do outro lado, Jorge Jesus não descaracterizava nem um milímetro a sua equipa em função de eventuais poupanças para outras batalhas. Do “onze” tipo do Benfica, apenas Carlos Martins no lugar de Aimar, mas esta também era uma mudança habitual, a pensar numa utilização do argentino mais à frente no jogo.

Poucas vezes as duas equipas se terão defrontado com um desnível tão grande, da qualidade de jogo até à própria capacidade anímica dos seus jogadores e à crença dos seus adeptos. Isso tinha ficado provado no último domingo contra os respectivos adversários madeirenses. O Benfica conseguira inverter um resultado negativo no último minuto frente ao Marítimo, o Sporting perdera no terreno do Nacional, mesmo a jogar com mais um. Só que os “encarnados” não foram tão bons como costumam ser, nem os “leões” foram tão maus e o jogo pareceu surpreendentemente equilibrado.O objectivo inicial do Sporting era travar o Benfica na zona de construção, mas não ter apenas destruidores. André Santos e Zapater seguravam os criativos benfiquistas, Matías ficava perto de Postiga e a estratégia estava a funcionar, aproveitando o menor fulgor adversário, que Jorge Jesus não se tem cansado de referir.

Antes de acontecer alguma coisa de relevante no jogo, contrariedade para o Sporting. Carriço lesiona-se aos 13’ e entra Polga. No minuto seguinte, o Benfica cria perigo, com um cruzamento de Gaitán a que Cardozo não chega e que Torsiglieri consegue interceptar.

Aos 21’, regressa um fantasma benfiquista de início de época: os erros de Roberto. Matías marca um livre do lado esquerdo, a bola entra na área, o guardião espanhol do Benfica sai mal da pequena área e Postiga, sem marcação, faz o golo. Ao terceiro jogo, o Sporting finalmente conseguia marcar ao seu grande rival esta época, mas não faltaria muito para incorrer nos pecados defensivos que tanto têm puxado os “leões” para baixo, e com protagonistas recorrentes.

Minuto 33, Polga derruba Javi García na área, Jorge Sousa assinala penálti. Na conversão da falta, Cardozo permite a defesa de Rui Patrício, mas no canto que se seguiu, cobrado por Carlos Martins, o paraguaio sobe mais alto que todos e faz o golo do empate. Nada de novo de ambos os lados. O Benfica é forte nas bolas paradas, o Sporting sofre muito neste tipo de lances.

Nas actuais circunstâncias, acrescido do factor emocional de uma rivalidade centenária, restava ao Sporting lutar pelo orgulho e, literalmente, aguentar a cavalgada benfiquista rumo à vitória. Os “encarnados” acentuaram a pressão na segunda parte, criaram várias oportunidades, mas a decisão foi-se arrastando. O Sporting foi menos pressionante, parecia mais cansado e deixava-se levar, mas, ainda assim quase conseguiu surpreender pouco antes dos 90’, quando Matías não conseguiu bater Roberto após boa jogada de Yannick.

Quando os penáltis pareciam certos, um milagre no último minuto. Bola na área do Sporting, Cardozo e García parecem atrapalhar-se um ao outro, mas o paraguaio toca a bola para o espanhol, que faz o 2-1. Quase cinicamente, como que para não dar ao adversário a mais pequena hipótese de recuperar porque o jogo iria acabar momentos depois.

Ficha de jogo

Benfica 2
Sporting 1

Jogo no Estádio da Luz, em Lisboa. Assistência 49.652 espectadores.

Benfica

Roberto 5, Maxi Pereira 6, Sidnei 6, Luisão 6, Fábio Coentrão 6, Javi García 7, Salvio 6, Carlos Martins 7 (Aimar -, 66’, Felipe Menezes -, 77’), Gaitán 6 (Franco Jara 5, 66’), Saviola 5 e Cardozo 7. Treinador Jorge Jesus.

Sporting

Rui Patrício 6, João Pereira 6 (Abel -, 84’), Carriço - (Polga 4, 14’), Torsiglieri 6, Evaldo 5, André Santos 7, Zapater 6, Matías Fernandez 6, Vukcevic 6 (Valdés 5, 63’), Yannick 5 e Hélder Postiga 6. Treinador José Couceiro.

Árbitro Jorge Sousa 6, do Porto. Amarelos Torsiglieri (27’), João Pereira (28’), Hélder Postiga (31’), Polga (32’), Maxi Pereira (37’), Salvio (57’), Rui Patrício (85’) e Fábio Coentrão (90’).

Golos

0-1, por Hélder Postiga, aos 21’;


1-1, por Cardozo, aos 34’;


2-1, por Javi García, aos 90’+2’


A FIGURA: Cardozo: “Às vezes falha, mas também acerta muito”

Não é, e, provavelmente, nunca será um avançado consensual. Às vezes até parece displicente, não é tão exuberante como outros, falha penáltis com alguma regularidade, mas tudo pode ser perdoado quando tantas vezes decide jogos.Nesta quarta-feira, voltou a pecar na grande penalidade, mas redimiu-se no minuto seguinte com um golo de cabeça, que até nem é a sua grande especialidade. E numa noite de menor inspiração do seu colega de ataque Saviola, o paraguaio saiu muitas vezes da área para servir de pivot para as movimentações ofensivas do Benfica.
Esteve várias vezes perto de voltar a marcar, entre elas num erro estrondoso de Rui Patrício que o paraguaio quase aproveitava, mais uma bola que foi ao ferro. Não foi dele o golo da vitória, mas estava lá, no sítio certo, para oferecer a bola a Javi García.
Quando o Benfica está em apertos, é meter a bola em Cardozo. Ninguém no plantel “encarnado” é tão eficaz como ele e têm passado muitos avançados que nem sequer se aproximam do seu rendimento (é só olhar, por exemplo, para os números de Kardec, Weldon ou Nuno Gomes). Às vezes ele falha, é verdade, mas também acerta muito. M.V.

POSITIVOJavi García

Não teve um duelo fácil com o meio-campo do Sporting, mas esteve geralmente bem. E, desta vez, foi a vez dele ser o herói, com o golo que marcou no último minuto. Foi confuso e pouco estético. Mas foi golo.


Rui Patrício

Tirando um erro que ia dando um golo a Cardozo, o guarda-redes defendeu várias bolas de golo, incluindo um penálti. Se o jogo não tivesse sido decidido nos últimos instantes, ele estava com moral para defender.


André Santos

O melhor dos médios do Sporting, que fizeram um jogo razoável. Bom a destruir e a construir.


NEGATIVORoberto

Voltaram os erros do guarda-redes espanhol. Postiga é bem mais baixo que ele mas cabeceou nas suas barbas e marcou o golo do Sporting. A defesa, no final, a remate de Matías não deve esconder mais um erro que podia ter sido fatal.


Polga

A saída de Carriço logo no início foi um golpe duro nas aspirações “leoninas”. O que parecia estável e seguro transformou-se, com a entrada de Polga, em algo permeável. O brasileiro provocou o penálti e teve mais umas falhas imperdoáveis.


Evaldo

Outro jogador a menos na defesa do Sporting. Sálvio fez o que quis dele e teve culpas no golo de Cardozo.


Notícia actualizada às 23h57
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