Amansar a fera, finalmente?

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José Alberto Carvalho sai da RTP para formar nova equipa directiva da TVI Foto: Nuno Ferreira Santos

Ainda não está na administração e Paes do Amaral já tem uma contratação que desejava para a Direcção de Informação da TVI. Nos anos em que lá passou, sempre mostrava incómodo com a independência, a acutilância e a irreverência da informação da TVI, três qualidades que foram quarta-feira defendidas como características a manter num comunicado do conselho de redacção do canal. Não só Amaral manifestou o seu desagrado com o que se tornou a ideia feita acerca do "estilo da TVI", como agiu contra ele, por exemplo afastando Marcelo Rebelo de Sousa quando ele desagradou ao poder político.

Ao contrário de Belmiro de Azevedo e de Pinto Balsemão, o ex e futuro chefe da TVI não aprecia uma forte independência informativa, assemelhando-se nisso aos próceres governamentais que passam pelas administrações da RTP. Não admira que desejasse José Alberto Carvalho, cujo mandato nas duas últimas direcções da RTP coincidiu, na minha opinião, com a mais acentuada governamentalização da informação desde há décadas. Um dos objectivos é, pois, o de conseguir, com Carvalho, apagar os traços de independência, acutilância e irreverência que a redacção da TVI aprecia.

A TVI poderá ter incorrido num erro de gestão e de avaliação das necessidades internas. Revela desconhecimento do que tem sido nos últimos anos o torpor da Direcção de Informação da RTP e o seu relacionamento com a sua administração, representante da tutela governamental. Carvalho revelou uma enorme incapacidade para tomar decisões e uma atitude para com o poder político governamental que, na minha opinião, promete o pior quanto à independência, acutilância e irreverência. Infelizmente, é comum administrações de grupos privados desprezarem a independência editorial e preferirem um conúbio malsão com o poder do momento.

Ao contrário da ideia feita, a informação da TVI é hoje interessante e competente, e amiúde menos sensacionalista do que as da RTP ou SIC. Se por vezes é a última a chegar a eventos inesperados, tal deve-se mais a falta de meios disponibilizados pela administração do que a erros jornalísticos de avaliação. A TVI preferiu agora gastar em estrelas milionárias a investir na redacção. A transferência de Judite Sousa, que poderá motivar-se por melhores condições contratuais, representa a aquisição de uma jornalista experiente, nomeadamente nas entrevistas. Sousa conseguiu sempre o milagre de estar em direcções politicamente suspeitas sem que esse opróbrio lhe caísse em cima. Não é nada com ela. Eis uma qualidade que continuará a ser-lhe útil na TVI.

Quanto à RTP, fica desfalcada a menos de um ano de mudança de administração e, quem sabe, de Governo. Não perde nada com a saída de um director asténico como Carvalho, mas saem também pessoas experientes de cargos directivos. Receio que não será desta que a RTP aproveita para uma mudança profunda que favoreça o serviço público, a informação livre e o nosso dinheiro que lá é enterrado, cerca de um milhão de euros por dia.

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