Torne-se perito

Preço do petróleo no mercado está 45 por cento acima das previsões do Governo

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Destruição em Tobruk: 14% do petróleo consumido em Portugal vem da SUHAIB SALEM/REUTERS

São 40 dólares de diferença que separam as previsões no Orçamento do Estado para 2011 dos valores actuais do crude, mas o Governo afasta necessidades de revisão

Os preços do petróleo Brent atingiram ontem os 114 dólares por barril, depois de terem chegado aos 120 dólares no início do dia. Este valor fica 45 por cento acima das previsões do Governo no Orçamento do Estado para 2011, onde se indica um preço médio de 78,8 dólares por barril.

No entanto, o ministro da Presidência escusou-se ontem a fazer quaisquer alterações ao Orçamento do Estado e disse que o Governo irá esperar para ver como os preços evoluem. "Continuamos a acompanhar a situação e não vamos naturalmente fazer alterações de projecções orçamentais em cima do acontecimento, temos que ver como é que a situação evolui", disse ontem Pedro Silva Pereira aos jornalistas.

Os efeitos de uma subida dos preços do petróleo bruto não se reflectem de imediato nos custos dos combustíveis, mas a verdade é que a gasolina atingiu o preço mais alto desde sempre no início desta semana. Na última segunda-feira, o preço de referência cobrado pela Galp aumentou para 1,534 euros por litro, subida acompanhada pelas outras marcas petrolíferas, enquanto o do gasóleo subiu para 1,394 euros - muito próximo dos valores máximos registados em Junho de 2008.

Na verdade, a manterem-se os actuais níveis de preços e a diminuição de produção da parte da Líbia, tudo aponta que os preços da gasolina e do gasóleo vão continuar a subir, tal como os custos dos produtos petrolíferos que são utilizados também pela indústria e pelos transportes marítimos e aéreos.

Tanto a Galp como o Governo garantem que não haverá falta de combustíveis em Portugal, uma vez que a repartição de fornecedores é maior do que sucede noutros países europeus e a solução será "diversificar as fontes de energia", afirmou o secretário de Estado da Energia e Inovação, Carlos Zorrinho.

Do petróleo bruto que foi importado em 2010, em termos de valor, mais de 14 por cento vieram da Líbia - o segundo fornecedor mais importante, que é ultrapassado apenas pela Nigéria. A Arábia Saudita é também um vendedor de peso: representa mais de nove por cento do crude importado.

Face à quebra de produção na Líbia, onde vários grupos petrolíferos já suspenderam as operações, a Arábia Saudita já está em contacto com as companhias mais afectadas - em especial na Europa, para onde este país africano exporta quase 85 por cento do crude que vende para o exterior. "Estamos em conversações com as refinarias europeias para sabermos a qualidade que querem e estamos prontos para enviar por via marítima logo que necessitem. É desta forma que compradores e vendedores funcionam. Precisamos de saber do que eles precisam antes de agirmos", disse à Reuters uma fonte do reino saudita.

No entanto, da parte de empresas da indústria petrolífera como a Repsol e a ENI mantêm-se fortes dúvidas sobre a qualidade do petróleo disponível, uma vez que "nada está ainda bem definido". Essa preocupação é partilhada também pela Galp: "Neste momento, existe uma significativa capacidade de produção de petróleo não utilizada, que reside sobretudo em outros países-membros da OPEP, em particular na Arábia Saudita, sendo todavia de qualidades diferentes", afirmou ao PÚBLICO uma fonte oficial da petrolífera.

Essa diferença de qualidade corresponde a custos de aquisição mais baixos, mas em contrapartida aumenta as despesas da refinação que tem lugar em Sines e em Matosinhos, devido à necessidade de processar petróleo bruto mais "pesado" (com maiores quantidades de produtos sulfúricos). Resultado? O mais provável deverão ser novas subidas dos preços dos combustíveis.

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