Pedro Tamen vence prémio do Casino da Póvoa

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O Livro do Sapateiro Nuno Oliveira

"Sabedoria de humildade" disse o júri sobre O Livro do Sapateiro. Tamen vai sábado a Póvoa de Varzim para receber o prémio

O escritor Pedro Tamen é o vencedor de 2011 do prémio literário Casino da Póvoa atribuído na 12ª edição do Correntes d"Escritas, o encontro de escritores de expressão ibérica que ontem começou na Póvoa de Varzim.

A obra O Livro do Sapateiro (ed. Dom Quixote) foi considerado pelo júri como "uma obra de grande coerência interna, com um discurso lúcido, reflectindo uma sabedoria de humildade". O prémio, no valor de 20 mil euros, distingue assim este ano a poesia. A reunião do júri, constituído pelos escritores Almeida Faria, Fernando Pinto do Amaral, Patrícia Reis, valter hugo mãe e o jornalista Carlos Vaz Marques, foi muito rápida e o prémio atribuído por maioria.

"Este livro é sobretudo de uma grande coerência", disse ao PÚBLICO, o poeta Fernando Pinto do Amaral.

"São 49 poemas, todos a partir de um homem que trabalha, reflecte sobre a vida e a morte, chora, ri, pensa em tudo um pouco à medida que está a fazer sapatos", explica este membro do júri. Cada poema é um momento, mas todos acompanham o quotidiano daquele homem, que é um sapateiro, de algum modo, em sentido simbólico. "Os sapatos, aquilo que calçamos servem-nos para ir pelo mundo, para caminhar, para viajar e o sapateiro está sempre ali. Esse contraste também é engraçado no livro", acrescenta Pinto do Amaral, que considera que em relação à obra de Tamen este livro traz renovação.

"Mesmo com o passar da idade, a sua poesia tem-se renovado sempre e, por isso, Tamen tem passado anos sem escrever", lembra Amaral.

O poeta e tradutor Pedro Tamen acabou de publicar um livro que se chama Um Teatro às Escuras e Carlos Vaz Marques, faz um paralelo entre os dois: "Gosto muito de O Livro do Sapateiro por ver nele uma unidade, uma concentração que tem muito a ver com o novo livro, que é quase um monólogo em volta de uma personagem."

Vaz Marques lembra que O Livro do Sapateiro foge "àquela elevação por vezes excessiva" que é frequente na poesia. "Aqui, a poesia que não se move no universo exclusivamente literário", afirma. "É um livro muito bem conseguido, muito forte por causa disso. Fala de uma profissão em declínio e em desaparecimento, de onde o poeta extrai essa ideia que vai para além da criação exclusivamente artística. É o elogio do artesanato", acrescenta rindo-se.

Para além de O Livro do Sapateiro, a lista dos dez finalistas ao prémio integrava também A Inexistência de Eva, de Filipa Leal (Deriva); Anthero, Areia & Água, de Armando da Silva Carvalho (Assírio & Alvim); Arado, de A. M. Pires Cabral (Cotovia); Curso Intensivo de Jardinagem, de Margarida Ferra (&Etc); Guia de Conceitos Básicos, de Nuno Júdice (Dom Quixote); Mais Espesso que a Água, de Luís Quintais (Cotovia); Necrophilia, de Jaime Rocha (Relógio d"Água); O Anel do Poço, de Paulo Teixeira (Caminho); e O Viajante sem Sono, de José Tolentino Mendonça (Assírio & Alvim).

No próximo ano o prémio voltará a ser atribuído à prosa. "Será um ano tramado [para o júri]. Porque os prémios são bianuais e haverá livros de Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Inês Pedrosa, Lídia Jorge, Hélia Correia...", lembra a escritora Patrícia Reis, que tem feito sempre parte do júri.

O Prémio Casino da Póvoa deste ano será entregue no sábado, dia em que termina o encontro literário na Póvoa de Varzim e Pedro Tamen já confirmou a sua presença.

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