Derrota de Merkel em Hamburgo afectará posição na UE

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Merkel está em apuros

A chanceler deverá assumir uma "linha mais dura na defesa dos interesses alemães"

O terramoto que foi a grande derrota da CDU nas eleições de Hamburgo atingiu Berlim, titulava o diário de grande circulação Bild. Mas as ondas de choque poderão chegar ainda para lá da capital alemã, passando por Bruxelas, Atenas ou até Lisboa.

A derrota da União Democrata-Cristã em Hamburgo, cidade-estado de 1,3 milhões de habitantes, foi estrondosa. A CDU obteve 21,9 por cento, o pior resultado eleitoral do partido na cidade portuária no pós-guerra. Os sociais-democratas obtiveram quase 50 por cento dos votos e vão governar em maioria absoluta.

As causas foram locais, mas o primeiro efeito é nacional: Merkel perde mais três lugares no Bundesrat, o Conselho Federal, por onde passa cerca de metade das leis nacionais, por exemplo, as que interferem com as finanças dos estados federados. A coligação no Governo já perdera a estreita maioria que tinha no Bundesrat após a derrota nas eleições na Renânia do Norte-Vestefália, em Maio, na altura em que era discutida a ajuda da UE à Grécia. Estar em minoria obriga o Governo a concessões: ainda ontem, Merkel só conseguiu aprovar uma lei sobre o subsídio de desemprego depois de incluir reivindicações da oposição.

Agora, seguem-se eleições em mais seis estados, com 31 dos 69 lugares no Bundesrat em jogo, dos quais 13 são da CDU e podem passar para a oposição.

O maior teste é a votação em Baden-Würtemberg, a 27 de Março. O estado do Sudoeste é governado pelos conservadores desde 1953, mas um polémico projecto ferroviário em Estugarda pode deitar a perder a hegemonia dos democratas-cristãos, beneficiando os Verdes. Alguns comentadores dizem que uma derrota no estado pode mesmo levar a eleições antecipadas.

Assim, "Merkel irá provavelmente ter uma linha mais dura na defesa dos interesses alemães para apaziguar os seus apoiantes conservadores", comentou à Reuters o cientista político Dietmar Herz, da Universidade de Erfurt. Um outro pormenor: os liberais- democratas, que dividem o Governo com Merkel, conseguiram superar a barreira dos 5 por cento em Hamburgo, um fortalecimento do partido, que não apoia flexibilizações ou alargamentos do fundo de apoio do euro.

A transformação da ajuda pontual num mecanismo de solidariedade vai ser discutida numa cimeira dos países do euro a 11 de Março e na cimeira europeia de 25 de Maio - dois dias antes da votação-chave em Baden-Würtemberg.

"Não há espaço para Merkel chegar a casa com nada que se possa parecer com uma derrota" na cimeira de Maio, afirmou Carsten Brezeski, economista do ING Groep NV em Bruxelas, ao canal de informação económica Bloomberg.

Tudo isto afectará países em dificuldades como Portugal: "Há um risco para a dívida dos países periféricos se parecer que a Alemanha não está a apoiar os países em apuros", nota Orlando Green, responsável do banco Credit Agricole Corporate & Investment em Londres.

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