Desafios dos preços dos alimentos

Os preços das matérias-primas, em particular os produtos de base para a alimentação, atingiram nos últimos meses máximos históricos nos mercados internacionais. A escalada dos preços e as suas consequências, como sejam a subida do preço do pão, ou, no plano internacional, o rastilho para a revolta popular em Moçambique ou na Tunísia, reacenderam o foco sobre as questões da alimentação e da agricultura, depois da crise alimentar de 2008. Esta alta de preços, segundo projecções, vai-se manter no futuro.

O índice de preços da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) subiu em Janeiro pelo sétimo mês consecutivo, puxado pelos preços do açúcar e dos cereais, mas também dos óleos e gorduras. O Banco Mundial alerta que os preços se aproximam do máximo histórico de Junho de 2008. Esta escalada preocupa consumidores, governos e organizações internacionais, porque ameaça tanto a estabilidade social como a economia, tem efeitos sobre a inflação e agrava as pressões sobre a regulação financeira. Já os produtores e exportadores exultam com a subida de preços.

Preços elevados ameaçam sobretudo as crescentes populações urbanas nos países em desenvolvimento. Sem surpresa, a fome nas populações urbanas em África, na Ásia e América Latina relaciona-se muito com a debilidade económica dos Estados e com problemas de governação. Nos países desenvolvidos é sobretudo a pressão inflacionista que mais preocupa. Por outro lado, a subida dos preços é provavelmente o melhor dos sinais para melhorar, a prazo, o abastecimento alimentar. Preços baixos conduziram ao subinvestimento no sector e ao seu abandono e contribuíram para a actual crise.

Outro importante aspecto a relevar é o efeito sobre a sustentabilidade ambiental: a agricultura extrai do meio ambiente materiais e a energia. Logo que a margem económica baixa, a agricultura pode tornar-se uma actividade "mineira" de recursos naturais, delapidando solos e meio ambiente à custa do resultado económico de curto prazo. Preços baixos agravam portanto os riscos ambientais.

A população humana deve atingir 9 mil milhões de pessoas em 2050, aumento concentrado nos países em desenvolvimento, e projecções apontam para a necessidade de aumentar em 70% a produção mundial de alimentos. Ao natural aumento da procura de mercadorias junta-se a predisposição para comprar, no limite a qualquer preço, de modo a controlar fenómenos de instabilidade social. Há que adicionar o influente aumento do preço da energia ou factores incontroláveis, como desastres naturais, e incontrolados, como a especulação. É pois incontornável a necessidade de aumentar as mercadorias alimentares nos mercados, o que coloca desafios tecnológicos, de sustentabilidade ambiental e de competição pela terra, pela água e por outros recursos naturais, cuja resposta tem que ser encontrada ao nível global. Mais do que uma crise conjuntural, a subida dos preços é um sinal para a necessidade de acção que garanta a mais básica das necessidades: a alimentação. Perito nacional em assuntos internacionais de agricultura

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