G20 avança para consenso sobre desequilíbrios mundiais

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Christine Lagarde, ministra das Finanças francesa, liderou trabalhos BENOîT TESSIER/REUTERS

Maiores economias fecham encontro em Paris com o "acordo possível", depois da pressão da China, mas sem impor metas

As maiores economias mundiais deram ontem um pequeno passo na luta contra os desequilíbrios mundiais. Após muitas divergências e algumas cedências, os ministros das Finanças e banqueiros centrais do grupo do G20, que se reuniram ontem e anteontem em Paris, conseguiram acordar uma série de indicadores dos desequilíbrios económicos mundiais, com vista a prevenir crises futuras.

A lista inclui a dívida pública, o défice orçamental, a taxa de poupança, o endividamento privado, a balança comercial e outros componentes da balança de pagamentos, como os fluxos de investimento. Não foram, contudo, impostos quaisquer limites nestes indicadores e, mesmo que um país seja avaliado negativamente num deles, essa recomendação não terá um carácter vinculativo.

Segundo a ministra das Finanças francesa, Christine Lagarde, o objectivo é ajudar a coordenar as políticas económicas no sentido de diminuir os desequilíbrios mundiais que contribuíram para a crise financeira de 2008/2009. "Não foi simples. Houve obviamente interesses divergentes, mas conseguimos chegar a um compromisso", disse Lagarde, no final do primeiro encontro do G20 com a França na presidência do grupo.

A oposição da China e de outros países emergentes à inclusão de determinados indicadores travaram uma maior amplitude do acordo. As reservas monetárias ficaram, de facto, de fora, mas, segundo a ministra francesa, as taxas de juro serão tomadas em consideração na avalição da balança de pagamentos. Os EUA têm sido um dos mais ferozes críticos de Pequim, acusando a segunda maior economia mundial de manter subavaliada a sua moeda (o iuan) para sustentar a sua indústria exportadora e, ao mesmo tempo, acumular gigantescas reservas em moeda estrangeira.

Esse mal-estar tem-se agravado com o acentuar dos desequilíbrios entre os países altamente endividados (os periféricos europeus, os EUA e o Japão) e os mercados emergentes (com altas taxas de crescimento).

Reforçar papel do FMI

A intenção de criar indicadores de desequilíbrios mundiais ficou decidida na cimeira do G20, em Seul, em Novembro do ano passado. A ideia da presidência francesa é avançar, no decorrer do segundo semestre, com a avaliação aprofundada dos países que apresentam desequilíbrios, um processo que culminará com o FMI a fazer recomendações de política económica. Segundo o Presidente francês, Nicolas Sarkozy, o FMI deverá ser, "mais do que nunca, a pedra angular da cooperação monetária internacional".

Com todas as indecisões quanto aos indicadores dos desequilíbrios mundiais, sobrou pouco tempo para o grupo do G20 discutir as duas outras prioridades da agenda da presidência francesa: maior transparência e regulação dos preços das matérias-primas e reforma do sistema monetário internacional.

O comunicado do G20 refere apenas que os ministros das Finanças acordaram em fortalecer o sistema monetário para impedir flutuações disruptivas nos fluxos de capital e nas taxas de juro.

Quanto aos alimentos, além do presidente do Banco Mundial (ver caixa), só Sarkozy falou sobre o tema, defendendo que este mercado deve ser sujeito à regulação, para impedir movimentos especulativos.

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