Bélgica marca recorde do mundo de país sem Governo com "revolução das batatas fritas"

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Os belgas encaram o impasse com o seu lendário sentido de humor FRANCOIS LENOIR/REUTERS

Preocupados com a crise política, jovens prepararam protesto bem-humorado: além de concertos haverá distribuição do símbolo gastronómico nacional

Tanto pode ser hoje como no fim de Março que a Bélgica bate o recorde do mundo do país durante mais tempo sem Governo, mas uma boa parte da população está com pressa de expressar a sua impaciência e preocupação face a uma crise política que se arrasta mais de oito meses depois das eleições legislativas de Junho.

Em rigor, o recorde de 289 dias sem Governo, por enquanto detido pelo Iraque no seguimento das eleições de Março de 2010, só será batido pela Bélgica dentro de quarenta dias, mas os mentores da "revolução das batatas fritas" - uma inspiração humorística da revolução de jasmim da Tunísia - decidiram ter em conta os 249 dias que foram necessários para a conclusão de um acordo entre sunitas, xiitas e curdos, apesar de a nova equipa só ter entrado em funções 40 dias depois. Esta antecipação não impedirá de forma alguma os belgas de voltarem a sair à rua se continuarem sem Governo no fim de Março, o que não é de todo impossível.

Por enquanto, e apesar de alguma incompreensão face ao impasse político, os belgas continuam a encará-lo de forma humorística, fazendo justiça ao seu lendário sentido de humor. Prova disso, o famoso actor cómico Benoït Poelvorde apelou aos seus compatriotas a deixarem de fazer a barba até à formação de um novo Governo.

No mesmo registo, uma senadora socialista flamenga, igualmente médica ginecologista, sugeriu uma greve do sexo contra os políticos envolvidos nas negociações para os obrigar a despacharem-se: Marleen Temmerma explica que se inspirou na política de "no government, no sex" seguida pelas mulheres do Quénia que permitiu encerrar uma longa crise política num mês.

Hoje, as manifestações organizadas em várias cidades, sobretudo por estudantes universitários através das redes sociais, incluem concertos, uma sessão de striptease e a distribuição gratuita de batatas fritas, um dos maiores símbolos gastronómicos nacionais.

Os organizadores esperam que os protestos mobilizem mais gente do que as 35 mil pessoas que desfilaram em Bruxelas no fim de Janeiro na "marcha da vergonha" para protestar contra a incapacidade de entendimento entre flamengos - conservadores e nacionalistas - no Norte do país, e francófonos - socialistas e liberais - no Sul, que mantém o país há mais de oito meses sem executivo.

O impasse resulta de um desacordo de fundo sobre o futuro do país no plano institucional e financeiro, nomeadamente sobre a transferência de competências federais para as regiões e uma maior responsabilização financeira das mesmas que é exigida pelos flamengos. Mas os francófonos temem um esvaziamento progressivo do Estado central e o empobrecimento das regiões em que são maioritários, Bruxelas e Valónia.

As negociações têm-se complicado com a radicalização do partido independentista de Bart De Wever, o mais votado na Flandres nas eleições de 13 de Junho e que defende o esvaziamento e desaparecimento progressivo da Bélgica. Segundo as sondagens, a sua popularidade continua a subir.

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