Torne-se perito

Quase mil menores casaram em cinco anos

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Raparigas menores de 18 anos casam mais cedo do que os rapazes pedro cunha

Em 2007, foram registados 450 casamentos envolvendo menores, um valor que tem caído desde então. Fluxos migratórios e gravidez adolescente podem explicar fenómeno

Em Portugal, nos últimos cinco anos, houve 922 casamentos envolvendo menores. Numa altura em que, em Espanha, se discute a possibilidade de elevar dos 14 para os 16 anos a idade mínima para casar, os números do Ministério da Justiça português mostram que, a partir de 2006, houve uma subida abrupta dos matrimónios em que pelo menos um dos cônjuges era menor de idade. Em 2000, houve 102 uniões naquelas condições, em 2006 o número subiu para 211, continuando a aumentar até aos 450 em 2007. Contudo, em 2010 já desceu para os 191.

Sem certezas quanto às justificações para o aumento, a demógrafa Teresa Rodrigues, da Universidade Nova de Lisboa, sustenta que o fenómeno pode estar associado a determinados fluxos migratórios. "Por essa altura, começámos a receber imigrantes de países como o Bangladesh, onde a idade média de casamento das mulheres é de 16 anos", afirma, acrescentando o Paquistão e a Índia à lista de países de imigrantes com tradição semelhante. Além destes, há a considerar as muçulmanas da comunidade africana, algumas da segunda e terceira gerações já com nacionalidade portuguesa.

Já Duarte Vilar, director executivo da Associação para o Planeamento da Família (APF), associa os casamentos precoces à gravidez adolescente. "Embora os apoios sociais sejam possíveis mesmo em união de facto, a oficialização através do casamento poderá dar a impressão que se garante uma protecção legal mais eficaz daquela gravidez e daquela maternidade". Acrescerão a estes motivos outros relacionados com "a respeitabilidade". "A mãe solteira era um dos grandes estigmas no passado e, nalguns meios, isso mantém-se inalterado".

Quanto à discrepância entre rapazes e raparigas - nos últimos cinco anos, casaram 1390 meninas e apenas 72 rapazes -, para Vilar só há uma leitura: "As mães adolescentes engravidam de rapazes com 20 ou mais anos, com quem acabam por casar".

Para quem se sentir tentado a incluir nestes números as uniões entre elementos da etnia cigana, Maria José Casa-Nova, que, entre 2003 e 2006, assistiu a seis casamentos ciganos, no âmbito da sua investigação sobre a comunidade, descarta liminarmente a hipótese. "Na comunidade cigana, a maior parte dos casamentos não se faz à luz da nossa lei e assim eles acabam por viver no que, para a sociedade dominante, é a união de facto".

Entre os ciganos, a idade média de casamento das mulheres varia entre os 14 e os 19 anos, e entre os 15 e os 21 para os rapazes. Aqui, a precocidade tem subjacente uma subordinação do género feminino relacionada com "a preservação da virgindade das mulheres, que é onde se joga a honra das famílias, e com a dificuldade que os pais têm em assegurar essa virgindade até idades tardias", conclui.

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