Lucros dos três maiores bancos privados sobem 7,5% em 2010

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Santos Ferreira apresentou ontem os resultados do BCP em 2010 PEDRO CUNHA

O BCP apresentou ontem lucros de 301,6 milhões de euros, com o maior crescimento. Ao BCE, tem 14 mil milhões de empréstimos contraídos

Os três maiores bancos privados portugueses lucraram em 2010 quase mil milhões de euros, ou seja, mais 75 milhões do que no ano passado. O bom resultado surge num quadro de crise de liquidez e de necessidade de capitalizar as instituições, o que está a obrigar os bancos nacionais a rever as suas estratégias de remuneração accionista.

Depois do BPI e do BES, ontem foi a vez do BCP divulgar as contas referentes ao ano transacto. Registou lucros de 301,6 milhões de euros, mais 33,9 por cento do que em 2009. O BES lucrou, em 2010, 510,5 milhões, menos 2,2 por cento, e os resultados líquidos do BPI subiram 5,6 por cento, para 184,8 milhões de euros. Os três grupos lucraram 996,9 milhões de euros, verba que em 2009 não ultrapassou os 922,3 milhões. Um crescimento de 7,5 por cento.

Estes números surgem em vésperas da realização dos novos testes de stress europeus (devem ocorrer até Maio), e depois do Presidente da República, Cavaco Silva, ter decidido ouvir os principais responsáveis do sector. Esta semana, estiveram em Belém o governador do Banco de Portugal e os presidentes da CGD, BCP, BES e BPI. O presidente quis inteirar-se das actuais condições de sustentabilidade do sector financeiro, mas também dar um sinal de que está atento à situação. A recomendação do BdP aos banqueiros para que adoptassem no curto prazo medidas de reforço dos capitais dos bancos, com ênfase para a retenção de lucros (não-distribuição de dividendos), terá sido uma das questões abordadas.

Depois de o BPI ter anunciado que ia, pela primeira vez desde 1986, reter os lucros para incorporação de reservas e aumentar o capital em 90 milhões de euros, ontem foi a vez de o BCP seguir um caminho idêntico e anunciar que não vai distribuir dividendos, mas sim atribuir aos accionistas novas acções resultantes da incorporação de 120 milhões de euros de reservas em capital. O BES optou por manter a estratégia de remuneração accionista e entregar 147 milhões de euros (uma queda de 10 por cento) aos investidores. Os bancos alegam que as propostas são um compromisso entre os interesses dos accionistas e a preservação do capital e da liquidez.

Antecipar as recomendações de Basileia II de reforço dos rácios de capital é a preocupação. O BCP regista um Tier 1 de 9,2 por cento (era de 9,3 por cento em 2009), de um rácio total de 10,3 por cento e de um Core Tier 1 de 6,7 por cento. Por seu lado, no BES, o Core Tier 1 é de 7,9 por cento, o Tier 1 de 8,8 por cento, e o indicador de solvabilidade passa a 11,3 por cento. No BPI, o rácio Tier 1 subiu para 9,1 por cento, o Core Tier 1 alcança agora 8,7 por cento e o rácio total ficou em 11,1 por cento.

Para além do capital, os bancos enfrentam desafios ao nível da obtenção de financiamento. Até Abril, precisam de obter cerca de 15.000 milhões de euros, estando uma parte já assegurada. Em condições normais, a obtenção de fundos é realizada sobretudo no mercado interbancário, onde os bancos emprestam uns aos outros sem entrega de garantias. Mas este mercado está agora encerrado para os países periféricos como Portugal. E, assim, procuram-se soluções alternativas. Santos Ferreira anunciou ontem que o BCP colocou 750 milhões em repo"s (contratos de recompra).

Outra forma de gerar liquidez é a venda de activos. O BCP vendeu a operação da Turquia. No final de Janeiro o BES colocou à venda empréstimos a empresas da Península Ibérica totalizando 945 milhões de euros e, ainda, 418 milhões concedidos a entidades norte-americanas.

Ainda assim, é ao Banco Central Europeu (BCE) que as instituições portuguesas têm ido levantar grande parte dos fundos. Os últimos dados indicam que a exposição do sector ao BCE é de 38 mil milhões de euros (valor que foi de 50 mil milhões de euros). O BCP tem cerca de 14 mil milhões (menos 1,4 mil milhões desde o pico máximo de responsabilidades). O BES tem 3,9 mil milhões de euros, enquanto o BPI diz que deve agora mil milhões de euros ao BCE. A CGD, Santander Totta, Banif e Montepio Geral deterão as restantes responsabilidades.

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