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Jorge Salavisa demite-se do Opart e a oposição critica a desorçamentação da cultura

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Jorge Salavisa esteve nove meses na direcção do Opart DANIEL ROCHA

"Razões pessoais" terão sido a causa da demissão. A oposição exige explicações e critica o novo projecto do ministério para o Opart

Jorge Salavisa demitiu-se da direcção do Organismo de Produção Artística (Opart), a empresa que gere o Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) e a Companhia Nacional de Bailado (CNB), nove meses depois da sua nomeação pelo Ministério da Cultura (MC), por considerar "não estarem reunidas as condições" para a sua "continuação". A justificação surgiu num comunicado assinado por Salavisa, que se manterá em funções até à nomeação de um novo director.

A demissão, que surge num contexto de cortes orçamentais e sob a perspectiva de juntar à alçada do Opart o Teatro Nacional de São João (TNSJ) e o Teatro Nacional Dona Maria II (TNDM), o que tem provocado uma forte reacção do sector, foi recebida durante a tarde com críticas e apreensão por todos os partidos representados no Parlamento, PS incluído - os directores do TNSC, da CNB, do TNSJ e do TNDM, contactados pelo PÚBLICO, guardaram para mais tarde qualquer reacção à demissão.

Já ao início da noite, a ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, afirmou ao PÚBLICO que as razões para a demissão de Jorge Salavisa "são do foro pessoal": "As condições que tinha hoje [ontem] são exactamente as mesmas de quando tomou posse. Temos imenso apreço pelo trabalho que realizou, temos as melhores relações e vamos mantê-las. Não há nenhuma razão política nesta decisão", acrescentou.

Em declarações à Lusa, Salavisa recusou que a sua demissão esteja associada à impossibilidade de acumular o ordenado do Opart com a pensão de reforma que aufere: "A minha decisão foi tomada antes de saber definitivamente algo que ainda hoje não sei, pois existem pareceres jurídicos contraditórios", declarou.

Horas antes, a bancada socialista, que afirmou ter tomado conhecimento da demissão através da imprensa, entregava um requerimento dirigido ao Ministério da Cultura, questionando as razões que levaram à saída de Salavisa - a deputada Inês de Medeiros disse ao PÚBLICO "lamentá-la profundamente."

A oposição, contudo, foi mais longe que o pedido de explicações, concentrando críticas na projectada integração do D.Maria II e São João no Opart, anunciada pelo MC em Outubro. Fernado Negrão, do PSD, considera a demissão de Salavisa "uma derrota para a ministra", aludindo à integração supracitada: "Estamos perante uma medida de concentração de organismos de natureza cultural que não foi estudada e que não foi preparada." A demissão de Salavisa, conjectura, "obrigará a ministra a repensar essa decisão."

O MC não comenta a anunciada integração, afirmando apenas que o processo segue o seu percurso e assegurando que a matéria "não tem qualquer relação com a tomada de posição de Jorge Salavisa."

Ainda assim, o BE, pela voz da deputada Catarina Martins denuncia o que considera um "subfinanciamento" da cultura que nem "permite aos teatros nacionais" funcionar com normalidade. O partido entregou ontem um requerimento ao MC, com o objectivo de conhecer os orçamentos para 2011 das quatro instituições que a tutela pretende ver reunidas no Opart.

Também o PCP entregará um requerimento, hoje, para audição da ministra na Comissão de Ética, Sociedade e Cultura. O deputado João Oliveira afirma serem necessários esclarecimentos. Olhando para os nove meses de Salavisa à frente do Opart, vê um período de "fortes constrangimentos financeiros e por uma perspectiva de futuro que não é risonha." Teresa Caeiro, deputada do CDS-PP, acusou Gabriela Canavilhas de "cortar fitas de projectos que já vinham de trás" e de "não fazer nada de concreto".

Jorge Salavisa (n.1939) foi director artístico do Ballet Gulbenkian, director da CNB e director artístico do São Luiz Teatro Municipal, cargo que trocou em 2010 pela direcção do Opart, a convite de Gabriela Canavilhas. com M.J.O.

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