Torne-se perito

"Quando se fala em empréstimos pensa-se que ninguém gasta"

O Observatório dos Recursos Educativos (ORE) apoia-se em trabalhos de investigação desenvolvidos por Adalberto Dias de Carvalho, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e por Nuno Fadigas, docente do Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo (ISCET). Apesar de ter o apoio da Porto Editora, Dias de Carvalho garante que o observatório tem feito estudos que "contrariam os interesses das editoras". Este não é um deles.

Por que é que estudou a realidade espanhola e não a alemã, a francesa ou a canadiana?

Porque nesses países há muito que é tradição dar os livros aos alunos. Em França ou na Alemanha, verifica-se que as famílias com rendimentos médios compram livros complementares e existe uma profusão de publicações, ou seja, os manuais escolares têm uma importância secundária. Em sociedades modestas como a nossa, os livros escolares são, em muitas casas, o único bem cultural. A Espanha é um laboratório precioso porque se trata de uma realidade próxima da nossa.

Não é óbvio que um sistema de empréstimo dos manuais saia mais caro ao Estado?

Sim, mas quando se fala de empréstimos pensa-se que ninguém gasta nada. O sistema tem um potencial de grande popularidade porque permite o acesso aos livros a baixo custo, garantindo a equidade e os princípios de solidariedade. Mas, em Espanha, o que se verifica é que se os pais ficaram satisfeitos, os professores manifestaram incómodo por razões de ordem pedagógica. Outros estudos provam que cerca de 20 por cento das crianças gostam de escrever nos livros, algo que não podem fazer no sistema de empréstimos. Não se pode escrever nos manuais porque são reutilizados no ano seguinte, aumentando o uso de fotocópias.

Defende o apoio directo do Estado às famílias para que sejam estas a comprar os manuais?

Defendo um apoio directo progressivo e com discriminação positiva. O apoio directo pleno só pode ser aplicado depois de passada a crise económica. Esse permite que as crianças fiquem com os livros. A relação de posse com o livro é positiva. B.W.

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