Aprender a reflectir na era da Web

Os novos media podem torpedear a contenção que o dia de reflexão impõe aos velhos media

A lei eleitoral consagrou a tradição de um dia destinado a conceder aos eleitores a possibilidade de reflectirem em sossego sobre a sua opção de voto. Na sua génese, esse dia de reflexão exprime uma visão sacralizada, quase religiosa, da democracia. A relevância do voto era tal que se impunha ao cidadão eleitor o equivalente a um dia de jejum pascal. Em vez de não poder comer carne, o cidadão não podia comer propaganda eleitoral. O tempo tornou anacrónica esta visão. Sabemos que, na prática, a solidão do momento de votar não é precedida por um dia de tormento democrático. A formação da decisão passa por outros processos. Contestamos a visão protectora que levava o cidadão a querer isolar o eleitor indeciso numa torre de marfim. Lamentamos, enquanto jornalistas, a limitação à liberdade de publicar. O cumprimento da lei obriga a que na história do quotidiano que são os jornais o último capítulo de cada campanha não possa ser escrito. Ao mesmo tempo, sabemos que tudo o que não pode ser publicado em papel ou transmitido por uma televisão ou uma rádio pode ser lido e visto na Internet. E sobretudo que a Internet ou o SMS podem ser usados para influenciar o sentido de voto. O exemplo das eleições espanholas de 2004, a seguir aos atentados de 11 de Março, é um exemplo que perdura de como os novos media podem torpedear o equilíbrio legislativo imposto aos velhos media. E ninguém conseguirá condenar nunca o autor anónimo de um e-mail ou de um SMS. Há um apelo à reflexão que vale a pena retomar: ainda reflectimos da mesma maneira na era da Web? Faz sentido este dia de reflexão? Isto sabendo que, na era da overdose informativa, o silêncio voltou a ter um valor inestimável.

A recessão já chegou em Dezembro

A evolução dos indicadores de conjuntura do Banco de Portugal (BdP) nos últimos seis meses só deve surpreender a equipa de prospectiva do Ministério das Finanças. Como previra a maioria dos especialistas, o BdP e diversas instâncias internacionais, a austeridade dos sucessivos Programas de Estabilidade e Crescimento e do Orçamento do Estado de 2011 provocariam uma forte retracção na procura interna e um consequente arrefecimento da economia. Foi precisamente isso que aconteceu ao longo dos últimos seis meses e em Dezembro o indicador coincidente da actividade económica do BdP acabaria até por se revelar, em termos homólogos, o mais deprimente dos últimos 14 meses. Ora, se esta tendência se consolidou até num período em que os consumidores trataram de adquirir bens para anteciparem a subida do IVA e sem que os funcionários públicos tivessem sofrido ainda os efeitos dos cortes salariais, pode então prever-se mais facilmente o que deverá acontecer a seguir. E o que vai acontecer estará sem dúvida mais perto da previsão do BdP - que aponta para uma quebra no produto de 1,3 por cento - do que da bem mais optimista estimativa do Governo, que esperava no orçamento um crescimento do PIB de 0,2 por cento.

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