Cabaret Maxime vai fechar no fim de Janeiro

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Não é a primeira vez que fecha. Bandas e músicos lamentam ricardo jorge carvalho

Diferendo entre a gerência desta casa de espectáculos de Lisboa e a empresa que gere o imóvel na Praça da Alegria estará na origem do encerramento

A Praça da Alegria, em Lisboa, faz cada vez menos jus ao nome. Depois da ausência forçada do Hot Clube, que deverá reabrir este ano, o Cabaret Maxime anuncia a festa derradeira - Auf Wiedersehen Maxime Goodbye, marcada para 29 de Janeiro.

A gerência do histórico cabaré lisboeta, inaugurado nos anos de 1940, confirma o encerramento: "Não nos resta outra alternativa que não encerrar até que apareça outra alternativa", admitiu ao PÚBLICO o sócio Manuel João Vieira, vocalista das bandas Ena Pá 2000, Irmãos Catita e Corações de Atum.

Em causa estarão, de acordo com a versão que avançou, um processo judicial entre a gerência e a Joing, empresa responsável pela exploração do imóvel e que é, ela própria, inquilina do Grupo Bernardino Gomes. O diferendo prende-se com a falta de licenciamento de umas obras realizadas entre as décadas de 1960 ou 1970 e pelo encerramento da casa durante seis meses em 2006. Segundo Manuel João Vieira, a Joing ficou encarregada de tratar do licenciamento, já que as obras não foram da responsabilidade da actual gerência. "A câmara deu um prazo [para regularizar a situação] que não foi cumprido", critica. "Se a empresa não tiver alvará por não licenciar as obras a tempo é complicado, até porque a dada altura a câmara terá de intervir."

O PÚBLICO tentou, sem sucesso, contactar a Joing, empresa inquilina do Grupo Bernardino Gomes, que gere a sala que está subalugada à gerência do Cabaret Maxime.

"Além de estarmos em tribunal, a empresa também interpôs uma providência cautelar para sairmos, mas nós ganhámos", continua Manuel João Vieira. "Poderíamos estar [no espaço] mais um ano, mas achamos que não há condições."

Nenhum dos sócios contactados pelo PÚBLICO exclui a hipótese da reabertura - esta não é a primeira vez que o Maxime fecha -, mas por enquanto não há certezas. "Voltar a abrir não depende de nós. Há um processo litigioso e estamos à espera de uma decisão do tribunal", diz o gerente do cabaré, Bo Backstrom, alegando que este não é um bom momento para especulações.

Por outro lado, o grupo Hotéis Real, detido pelo Grupo Bernardino Gomes, tem um projecto para reabilitar o edifício do Maxime para o transformar num "hotel temático", confirmou um administrador, Celestino Morgado. O início das obras está previsto para o Ve- rão, mas, assegura o administrador, "o projecto mantém o Maxime". O hotel está a ser pensado como se não houvesse litígio nenhum", garante.

Manuel João Vieira admite ter ouvido "vagamente" falar no assunto. "Também ouvi dizer que isso não interferiria com o Maxime. Isso não é pro- priamente o que está no centro das nossas preocupções", acrescenta.

José Cid, um dos músicos que passaram pelo Maxime, fala no "carisma" do espaço que "estava aberto ao lançamento de novos projectos e à confirmação de projectos antigos".

Um desses "novos projectos" que por ali passaram foram os Deolinda. A vocalista, Ana Bacalhau, lamenta o encerramento de "uma casa com características que não há muito em Portugal" e que "estava a promover novos valores da música portuguesa". "O Maxime estava a construir um público, uma programação, um estilo. Tenho muita pena", remata.

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