Governo assume que projecto do Metro Mondego não é sustentável

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Os carris no Ramal da Lousã foram, entretanto, levantados ADRIANO MIRANDA

"O metro do Mondego, como está planeado neste momento, apresentará um défice anual de cerca de 38 milhões de euros"

Um projecto megalómano, de 450 milhões de euros, com um défice anual de 38 milhões de euros para uma procura que foi claramente sobrevalorizada por estudos de mercado anteriores. É isto que, de forma implícita, o Governo vem dizer num comunicado emitido no sábado pelo Ministério das Obras Públicas e Transportes, no qual este se compromete a encontrar uma solução mais barata que satisfaça a mobilidade da população de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã.

O mesmo documento diz que haverá uma reunião com os autarcas daqueles municípios a 2 de Fevereiro, na qual o Governo se compromete a "apresentar uma alternativa com maior racionalização de custos", de acordo com estudos entretanto realizados pela Refer.

Uma das soluções era a transformação do antigo Ramal de Lousã (entre Coimbra e Serpins) num busway, em cujo corredor só circulariam autocarros de grande capacidade. Outra era a reposição dos carris e travessas e a instalação de um sistema automatizado de telecomunicações, para que deixasse de ser necessário, como até há pouco tempo, que o revisor tivesse de sair em cada estação para pedir ao posto de comando autorização para o comboio avançar.

O comunicado do Governo diz que as obras na plataforma mantêm o seu curso, o que indicia que os carris e as travessas voltarão a ser colocados, embora se desconheça a tipologia de serviço que ali funcionará, sobretudo ao nível do material circulante, visto que as automotoras do ramal foram, entretanto, deslocadas para outras linhas.

O projecto do metro do Mondego escapou por um triz à onda de suspensões de investimentos públicos aquando do primeiro Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) porque arrancou precisamente quando os outros projectos foram congelados. Mas ficou claro, logo no início, que não haveria 450 milhões de euros para executar até ao fim a primeira fase, a ligação Serpins-Coimbra. A segunda fase seria o ramal urbano desta cidade. Aliás, o Governo sublinha que desses 450 milhões, 40 por cento terão de ser assegurados pelas três autarquias, o que perfaz 180 milhões de euros, difíceis de obter na conjuntura actual.

O Governo nota ainda que este projecto é agora da competência da Refer e da CP (neste caso, só no que diz respeito ao material circulante), pelo que "não faz sentir manter a empresa Metro do Mondego, SA, que actualmente tem 12 trabalhadores, dos quais sete são administradores".

Desde o início das obras - que começaram precisamente por desmantelar o que existia - que os antigos passageiros da CP são agora transportados em autocarro, não se sabendo neste momento quando terminarão os trabalhos nem qual será o seu resultado final.

O Ramal da Lousã transportava 1,1 milhões de passageiros por ano, quando, de acordo com o Governo, "deveria transportar 16 milhões de passageiros para ser sustentável". A CP tinha prejuízos anuais naquele eixo de 6 milhões de euros. Ao apontar a megolamania do projecto e a sobrevalorização dos estudos de procura, o Governo faz também uma crítica velada à anterior secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, que fora entusiasta deste projecto.

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