Tiros acabam junto ao Banco Central na capital tunisina

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Os militares controlam agora as ruas da capital, Tunes Zohra Bensemra/Reuters

Depois de um amanhecer calmo nas ruas quase desertas de Tunes, a tensão regressou à tarde à capital, com confrontos em alguns pontos da cidade entre o exército e a polícia e grupos não identificados de homens armados.

Não se trata de violência genralizada, mas a Al-Jazeera diz que a situação permanece volátil e que muitos tunisinos estão a pegar em armas para se defenderem de possíves ataques e roubos.

As escolas, edifícios governamentais e grande parte do comércio poderão permanecer fechados até que as autoridades garantam que foi reposta a normalidade. Helicópteros e tanques do exército mantêm a guarda sobre os ministérios em Tunes, e a polícia tentava a segurança no centro da cidade.

Em muitos bairros residenciais, formaram-se grupos de milícias para proteger as casas dos roubos e vandalismo. Mas como assegurava à BBC um habitante de Nabeul, a sul de Tunes, “em termos de segurança a situação está muito melhor”. Haythem Houissa explicou que os moradores se tinham voluntariado para “limpar e vigiar” o bairro.

A Reuters falou com um morador do subúrbio de Intilaka. “Na noite passada isolamos o nosso bairro com barreiras na estrada e fizemos equipas para controlar a circulação. Agora já estamos a levantar as barricadas e a voltar à vida normal”, informou.

Fontes militares indicaram à Reuters que por detrás da violência de ontem estavam grupos de apoiantes do Presidente exilado Zine El Abidine Ben Ali, muitos deles ligados ao ministério do Interior e a facções dentro da polícia. O ex-chefede da Segurança, leal ao ditador tunisino foi detido e acusado de estar a semar o caos e a violência

Um diplomata francês, que falou à AFP sob anonimato, confirmou que eram os homens leais a Ben Ali que circulavam em caravanas de automóveis, disparando indiscriminadamente e semeando o pânico.

Ao mesmo tempo, muitos dos alvos de saques e vandalismo nos últimos dois dias estão associados ao Presidente e à sua família alargada, que detém participações em supermercados e outros estabelecimentos comerciais.

Reuniões com partidos retomadas hoje

O primeiro-ministro cessante Ghannouchi, encarregado pelo Presidente interino de liderar o processo de formação de um governo provisório, volta hoje a reunir com os líderes dos partidos de oposição considerados legais. As negociações para a constituição do executivo ocorrem em contra-relógio: é preciso preencher o mais rapidamente o vazio de poder deixado por Ben Ali.


Numa entrevista à cadeia francesa RTL, Najib Chebbi, que está à frente do Partido Democrático Progressista, disse ter exigido a Ghannouchi que as futuras eleições legislativas e presidenciais fossem realizadas sob supervisão internacional e num prazo máximo de seis ou sete meses. De acordo com a Constituição, o Presidente interno tem até 60 dias para fixar a data da votação.

O líder do partido trabalhista União da Liberdade, Mustafa Ben Jaafar, está aberto à ideia de uma coligação alargada. O partido Ettajdid [Renovação], de centro-esquerda, também está a participar nas conversas. Para o líder, Ahmed Ibrahim, primeiro “é fundamental acabar com a desordem”. “Depois temos de conversar. Mas estamos de acordo quanto a alguns dos princípios para a formação do novo governo”, adiantou.

Rached Ghannouchi, chefe do partido islamista Ennhadha, proibido pela ditadura, anunciou desde o exílio em Londres que vai voltar para a Tunísia para se envolver no processo, embora sem nenhuma garantia de que tal venha a acontecer. O primeiro-ministro cessante também não chamou ainda o Partido Comunista de Operários da Tunísia, que Ben Ali ilegalizou.

Na cidade de Regueb, no centro-oeste do país, o Exército interrompeu a marcha e obrigou à dispersão de uma manifestação de cerca de 1500 pessoas, que reclamavam uma “verdadeira mudança política” no país. “Não estamos revoltados com a formação de um governo de união, mas não pode ser só com a oposição de papelão”, explicou à AFP um sindicalista que participava na marcha.

notícia actualizada às 17h40
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