Fair play financeiro vai obrigar clubes a baixar salários e transferências

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O controlo das contas dos clubes vai ser mais rigoroso

Os clubes europeus de futebol gastam, em média, 64 por cento das suas receitas em salários. E no caso de 73 deles, a massa salarial é superior ao total das receitas. Resultado: 56 por cento apresentaram prejuízos em 2009 (ver outro texto). É por causa deste cenário que a redução dos salários dos jogadores de futebol - e a consequente baixa dos valores das transferências - é o grande objectivo da nova forma de controlo orçamental dos clubes (fair play financeiro).

As novas regras entram em vigor no início de 2013-14, mas as contas dos clubes na próxima temporada, que se inicia em Julho, já terão impacto na avaliação que será feita pela UEFA na hora de decidir quem pode participar nas suas competições.

Michel Platini, presidente da UEFA, reafirmou ontem que os incumpridores "vão ter de enfrentar as consequências". "Chegou a hora de tirar o pé do acelerador e de o colocar no travão, trazendo mais racionalidade para o futebol", acrescentou Karl-Heinz Rummenigge, presidente da Associação Europeia de Clubes.

Em termos simplistas, os clubes não poderão ter despesas superiores às receitas, embora, numa fase inicial, possam apresentar prejuízos de 45 milhões de euros na soma das duas ou três últimas temporadas.

Quais serão as consequências destas novas regras? "Sem dúvida nenhuma, os clubes vão ter de reduzir os orçamentos anuais, incluindo os salários. Em Portugal, alguns já estão a fazer isso", diz Hélder Varandas, especialista em finanças do futebol. Emanuel Medeiros, director executivo da Associação Europeia de Ligas de Futebol, acrescenta que travar a "espiral inflacionista na massa salarial e nas transferências" não só é uma consequência expectável do fair play financeiro, como é mesmo o seu grande objectivo: "Os clubes têm de viver de acordo com as suas possibilidades."

As novas regras terão certamente algum impacto na gestão dos clubes. Mas obrigará os emblemas portugueses a mudarem radicalmente? O PÚBLICO tentou ouvir os administradores financeiros de Benfica e Sporting, mas não foi possível. Já Angelino Ferreira, administrador do FC Porto, respondeu que a SAD portista tem vindo a preparar-se "há algum tempo" para o fair play financeiro, destacando que os últimos "quatro exercícios foram positivos".

Como acontece com vários clubes, o FC Porto depende bastante das vendas de jogadores, que previsivelmente vão ter, no futuro, montantes mais baixos. Sinal de alarme? Angelino Ferreira reage, afirmando que o clube tem noção de que está em marcha "uma alteração do modelo de negócio, na medida em que essa componente da receita é mais curta", pelo que está a apostar em novas estratégias que prefere não desvendar.

Hélder Varandas, por sua vez, antevê mudanças importantes na gestão dos clubes portugueses. E não só por causa do fair play financeiro: "Os bancos estão a apertar os clubes, para eles reduzirem o endividamento, e as taxas de juro estão a subir."

Emanuel Medeiros alerta, por outro lado, que o fair play financeiro não vai resolver todos os problemas do futebol, relembrando aspectos como a defesa dos direitos de propriedade dos clubes (transmissões ilegais na Internet e apostas) ou a necessidade de reforçar o investimento na formação de jovens jogadores.

Certo é que daqui a seis meses tudo o que os clubes fizerem já terá impacto na primeira avaliação (2013-14). E, como garantiu ontem Michel Platini, "não haverá recuos". Doa a quem doer.

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