Alemanha sabia do paradeiro de Eichmann anos antes da sua captura
Segundo documentos agora revelados pelo tablóide alemão "Bild", e que foram classificados como “uma descoberta sensacional” pela historiadora alemã Bettina Stangneth, a Alemanha tinha informações de que Eichmann estava na Argentina logo em 1952. Até agora achava-se que os serviços secretos da Alemanha Ocidental tinham sabido do paradeiro de Eichmann em 1956, através da CIA (segundo ficheiros norte-americanos desclassificados em 2006).
Eichmann, na altura o mais importante elemento do regime nazi ainda fugido, foi capturado por agentes israelitas em Buenos Aires em 1960. Dois anos depois foi julgado em Jerusalém e condenado de todas as 15 acusações, incluindo crimes contra a humanidade, crimes contra o povo judeu e crimes de guerra, morrendo enforcado.
O jornal afirma que obteve o ficheiro (de 3400 páginas) dos serviços secretos da RFA após um pedido judicial e que pediu um comentário à actual direcção dos serviços secretos, mas não obteve resposta. O ficheiro diz que Eichman estava a viver na Argentina com o nome Clemens. “A morada de E. é conhecida do director do jornal alemão na Argentina 'Der Weg'”, diz a nota, escrita à máquina.
Eichmann vivia na Argentina com o pseudónimo Ricardo Klement desde 1950, depois de ter conseguido escapar a uma captura pelos aliados no final da guerra e ainda ter vivido escondido na Alemanha.
Eichmann poderia apontar mais nazisA revelação mostra a relutância alemã em confrontar o seu passado nas décadas que se seguiram ao Holocausto, comenta a revista "Der Spiegel". Não se sabe no entanto se os serviços secretos tomaram alguma acção após esta informação. Mas, continua a "Spiegel", partido do princípio de que o serviço não era incompetente e que não falhou na busca, “a explicação mais provável é a falta de vontade política na Alemanha Ocidental para o pôr em tribunal”, disse a historiadora, lembrando que em 1953 até o chanceler, Konrad Adenauer, tinha declarado que “toda a conversa dos nazis” deveria parar.
“Imagine-se se ele tivesse estado no banco dos réus em 1953. Quantas pessoas poderia ter reconhecido e apontado?” questiona Bettina Stangneth. “Havia muitas pessoas na Alemanha que não estavam particularmente interessadas em vê-lo de novo.”
Como coordenador da máquina do Holocausto, que matou cerca de oito milhões de pessoas entre elas seis milhões de judeus, Eichmann conheceria muitos responsáveis que mais tarde trabalharam na administração da Alemanha Ocidental, e sabia ainda de todo o envolvimento das empresas alemãs que aproveitaram o trabalho nos campos de concentração.
Notícia actualizada a 12/01/2011